"Em outras oportunidades, o atirador tinha o alvo na mira e uma visão de onde estavam as reféns, já que em alguns casos, o disparo pode atingir outras pessoas depois de acertar o alvo principal. Mas, nesses outros momentos, ainda havia esperança na negociação."
Na sexta-feira, segundo Giovannini, houve uma crise na negociação e a conversa com Lindemberg chegou a um impasse.
"Senti muita revolta nele. Ele chegou a se despedir de mim, dizendo que eu não deveria mais ligar para ele e que eu fui um bom interlocutor e que não deveria me sentir culpado pelo que ele iria fazer na sequência - disse Giovannini, que - ao contrário dos outros depoimentos", disse ter ouvido um tiro no apartamento de Eloá antes da entrada da Polícia Militar.
A maior parte do depoimento do PM foi dedicada às questões levantadas pela defesa, que indagava sobre procedimentos e métodos utilizados na operação. Em três oportunidades, a advogada Ana Lucia Assad perguntou se a imprensa havia deixado Lindemberg nervoso e interferido nas negociações. As três questões foram indeferidas pela juíza Milena Dias.
Antes, o delegado Sérgio Luditza, responsável pelo inquérito policial do caso, confirmou que as atitudes do motoboy com os negociadores precipitou o início da ação.
"Ele disse que estava ouvindo um anjinho e um diabinho e que, naquele momento, o diabinho estava vencendo."
O segundo dia do julgamento de Lindemberg foi marcado por momentos tensos e muito bate-boca no plenário do Fórum de Santo André, no ABC paulista. Em um deles, a advogada do réu, Ana Lúcia Assad, disse que a juíza Milena Dias “deveria voltar a estudar”. Nesse instante, houve exaltação por parte dos presentes ao plenário; Lindemberg - que deve ser ouvido somente nesta quarta-feira - sorriu.
Em uma discussão sobre as atas do processo, ao longo de um dos vários depoimentos de testemunhas do dia, Ana Lucia questionou a juíza sobre uma aplicação do princípio da “verdade real”, que é um princípio do Direito que permite passar por cima de certas formalidades jurídicas, para a reconstrução completa dos fatos. A magistrada afirmou que desconhecia a aplicação e a defensora rebateu dizendo:
"Então a senhora deveria voltar a estudar."
A promotora de Justiça Daniela Hashimoto afirmou que a advogada do réu poderia responder por desacato à autoridade pela declaração.
"Como promotora de Justiça, devo informar que a senhora (advogada) pode responder por desacato à autoridade aqui constituída, que é a juíza que preside a sessão. A senhora tem de estar ciente disso", disse a promotora.
A discussão ocorreu durante o depoimento de Dairse Pereira Lopes, perita que analisou as armas utilizadas no crime. No testemunho, Dairse apenas ratificou que os projéteis extraídos de Eloá saíram de uma arma calibre 32, a mesma utilizada por Lindemberg ao longo do cárcere privado de mais de 100 horas.
Além de Dairsem, Luditza e Giovannini, foram ouvidos nesta terça-feira os dois irmãos de Eloá, Ronickson Pimentel dos Santos e Everton Douglas; dois jornalistas que participaram da cobertura do caso; e um perito do Instituto de Criminalística (IC).
Mais cedo, antes da pausa para o almoço, houve um outro tumulto no plenário, quando a advogada de Lindemberg desistiu de ouvir a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, arrolada como testemunha de defesa. A medida teria sido uma manobra de Ana Lucia Assad para tirar a mãe de Eloá da plateia - Ana Cristina foi colocada numa sala secreta nesta segunda-feira - e evitar comoção por parte de jurados.
Pela manhã, a mãe de Eloá sentou na cadeira de testemunhas e encarou Lindemberg, que ficou observando o chão ou desviando o olhar. Por volta das 11h15m chegou a ser dispensada. A desistência gerou um bate-boca entre os advogados de defesa e acusação. Os assistentes da Promotoria afirmaram que gostariam de ouvir a mãe da vítima como testemunha do júri. A juíza chegou a aceitar o pedido, mas a advogada de Lindemberg ameaçou abandonar o caso, o que anularia o julgamento. A acusação, então, voltou atrás.
A defesa de Lindemberg também chegou a abrir mão do depoimento do irmão caçula de Eloá, Everton Douglas, de 15 anos. Mas a Promotoria não aceitou a dispensa e o jovem foi ouvido como testemunha do juízo.
Após o imbróglio, Ana Cristina Pimentel assistiu ao depoimento no plenário. E novamente olhou para Lindemberg. Na saída do Fórum, declarou que não sente que o réu se arrependeu do crime e que ele sussurrou para ela, que entendeu que a frase dita foi: “Não fala mal de mim”. Abalada, a mãe de Eloá afirmou:
"Ele é um assassino."
Irmão de Eloá chama réu de “monstro”
Ronickson Pimentel dos Santos, irmão mais velho de Eloá, foi a primeira testemunha a prestar depoimento nesta terça-feira. Ele disse que Lindemberg - que sorriu novamente ao rever o antigo amigo-, traiu a confiança da família de Eloá.
"Meu pai e minha mãe tinham ele como um filho. Mas ele tinha duas personalidades: uma para nós e outra fora de casa", falou Ronickson.
Perguntado sobre como definiria Lindemberg atualmente, o irmão de Eloá disse que o réu era “um monstro” capaz de tudo.
Os trabalhos neste segundo dia de júri começaram por volta das 9h30m, cerca de uma hora após a chegada do acusado ao Fórum de Santo André, no ABC paulista. Lindemberg passou a noite no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, a 30 km do fórum.
Na chegada do Fórum, a advogada Ana Lucia Assad foi bastante hostilizada por populares que se encontram em frente ao local. Ela foi chamada de “defensora de assassino”. Ana Lucia afirmou que entende a emoção provocada pelo julgamento, mas lembrou que exerce o papel constitucional.
"O Lindemberg tem direito a uma defesa técnica. Só com essa defesa pode-se manter Justiça", disse a advogada do réu.
Nesta segunda-feira, primeiro dia de júri, os depoimentos dos estudantes Vitor Lopes de Campos e Iago Vilera de Oliveira, amigos de Eloá Pimentel mantidos reféns pelo motoboy, confirmaram o testemunho dado antes por Nayara Rodrigues, de que o réu falava em matar a ex-namorada desde que entrou no apartamento da vítima. Da Agência O Globo
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