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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Viver Sob Tiroteio: O Custo Psicológico da Violência nas Favelas do Rio

Psicanalista alerta sobre o transtorno de estresse Pós-Traumático
A megaoperação policial ocorrida essa semana, no Complexo da Penha e do Alemão, que culminou na morte de, pelo menos, 132 pessoas, é um exemplo clássico de evento traumatizante que, certamente, pode ativar experiências psicológicas destrutivas, em moradores expostos a situações ameaçadoras, em áreas de grande conflito armado de guerra do tráfico no Rio de Janeiro.

Viver em territórios marcados pela violência armada é um desafio diário. Uma vivência marcada pela atmosfera de medo, insegurança, pânico e ameaças. Segundo alerta a psicanalista Andrea Ladislau, esse é um cenário com ingredientes perfeitos para desencadear experiências traumáticas que podem se transformar, do ponto de vista psicológico, em um TEP – Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Um tipo de transtorno de ansiedade que se desenvolve após evento ou situação de natureza catastrófica ou ameaçadora.

Andrea explica que os efeitos e sintomas desse transtorno podem variar conforme o nível de equilíbrio emocional e a idade de cada pessoa. Muitas podem apresentar bloqueios ou dificuldades para desligar-se do acontecido.

“O que chamamos de revivescência do trauma: lembranças, flashbacks do confronto, das mortes e das cenas do conflito que insistem em reviver, na mente, o evento traumatizante. Uma das reações mais naturais após o ocorrido é o desejo intenso de se isolar socialmente e a necessidade de evitar pessoas, lugares e situações que floresçam o perigo. Além disso, se existe uma tendência a desenvolver depressão ou ansiedade, o episódio traumático tem o poder de potencializar essas condições clínicas”, afirma.

*Principais sintomas*
Alterações comportamentais de agressão, gritos, hostilidade, irritabilidade, agitação, automutilação, comportamento autodestrutivo, hipervigilância, insônia, sofrimento emocional, desesperança, perda do prazer e do interesse em realizar determinadas atividades, ataques de pânico, culpa e descontentamento geral, são os principais sintomas e efeitos do Transtorno Pós-traumático.

“Ainda temos as alterações neurofisiológicas e mentais desencadeadas pelo TEP, que são: desconfiança, alucinações, pesadelos, terror noturno, privação de sono, estresse agudo, alterações severas de humor e dores de cabeça. E em casos mais extremos, o pânico é tão intenso que a pessoa pode vir a desenvolver ideações suicidas”, alerta.

E complementa que esse quadro de saúde se não for tratado de imediato, após os primeiros sinais de instabilidade emocional, o desequilíbrio psíquico pode se agravar.

Andrea explica que algumas semanas ou meses após o evento, geralmente nos primeiros três meses, já se percebe uma instabilidade emocional, que pode durar além deste período.

“Em grande parte dos casos, adultos e idosos podem ter agravadas doenças psicossomáticas ou transtornos crônicos evidentes. Já crianças ou adolescentes que tenham vivenciado momentos de terror, podem apresentar regressão do desenvolvimento cognitivo e comportamental”, complementa.

Portanto, esse triste episódio de guerra e violência no Rio de Janeiro, traz pânico e muita dor. É fundamental desenvolver, urgentemente, políticas públicas de segurança e proteção da população que está exposta e se torna refém dos confrontos urbanos.

“Além disso, os programas de enfrentamento e ampliação de rede de apoio às comunidades envoltas nesses conflitos, é fundamental para prevenir os sintomas pós traumáticos crônicos e outras condições clínicas que afetem, de forma irreversível, o emocional de um ser humano”, finaliza.

Andrea Ladislau é doutora em Psicanalise Contemporânea, Neuropsicóloga. Graduada em Letras - Português/ Inglês, Pós graduada em Psicopedagogia e Inclusão Digital, Administração de Empresas Administração Hospitalar. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.
Instagram: @dra.andrealadislau

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