Agressão de alunos, ameaça de país, pressão de donos de escola e até tentativa de envenenamento expõem a violência física e psicológica que atinge profissionais das redes pública e privada em Salvador
Por: Daniela Gonzalez e Victor Quirino
Foto: Reprodução

Nas escolas públicas e particulares da Bahia, e no Brasil inteiro também, professores carregam mais do que livros e planos de aula: convivem diariamente com a sensação de serem alvos. Não apenas pela violência explícita, mas pelo silêncio que ronda corredores, pela pressão institucional, pelo desrespeito que se infiltra na rotina. O que era lugar de ensinar se transforma em cenário de insegurança.
Basta uma busca rápida na internet para perceber que a sala de aula virou manchete, e não pelas boas notas. A cada rolagem, um novo episódio: brigas, ameaças, tapas e até tentativas de envenenamento. Na última semana, quatro alunos do Colégio Estadual Edson Carneiro (veja imagem aérea da unidade na página ao lado), situado no bairro de São Caetano, em Salvador, foram flagrados tentando misturar chumbinho em balas para entregar a duas professoras. O plano, descoberto antes de ser executado, foi denunciado por colegas à direção. A Secretaria da Educação do Estado (SEC) informou que o caso foi registrado na Polícia Civil.
João Neto, professor de uma escola municipal de Salvador, conta que a violência já atravessou sua rotina mais de uma vez: “Já fui ameaçado por aluno e por responsável. Uma vez, o pai de um estudante invadiu a coordenação por causa de uma nota e, aos gritos, me empurrou. Foi um daqueles momentos em que a gente percebe que a escola deixou de ser um lugar seguro”.
Neto conta que o medo não se resume ao susto do momento, mas às marcas que ficam.
Ele diz que passou a planejar as aulas com mais cautela, “como quem desarma uma bomba”, evitando discussões que antes encarava com naturalidade. Deixou de aplicar punições em público e limita o contato com famílias quando percebe sinais de tensão. Já pensou em abandonar a carreira, pedir transferência ou buscar outra profissão. Segundo ele, não é o único. “Não estamos falando de casos isolados. Em conversas com professores de três ou quatro escolas diferentes, as histórias se repetem: agressões verbais no corredor e pais que exigem ‘respostas rápidas’”, detalhou.
Violência é cada vez mais normalizada
Antônio*, nome fictício usado para preservar a identidade do professor, atua nas redes pública e particular. Ele descreve um cenário de tensão crescente nas escolas pagas ou não e conta que já presenciou estudantes entrando em sala de aula com facas e até spray de pimenta. A sucessão de episódios, disse, levou ao adoecimento. “Acumulei um estresse pós-traumático que quase virou depressão”, relata. Mais no metro1
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