Por Júlia Moura | Folhapress
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Em balanços divulgados nesta semana, os três bancos divulgaram um crescimento anual no lucro líquido, que somou R$ 21,23 bilhões, e na rentabilidade.
"A grande dúvida que fica é como vai ser a economia no segundo semestre. Para os bancos, há dúvida na desaceleração da carteira de crédito até o fim do ano e potencial impacto na inadimplência", diz o Eduardo Rosman, o analista de finanças do BTG Pactual.
Dados do BC mostram que o crédito em atraso acima de 90 dias subiu de 3,28% em março para 3,55% em junho, igualando o patamar visto em maio de 2023, o maior desde 2017. Os três maiores bancos privados, porém, seguem com essa métrica sob controle.
Em comparação ao segundo trimestre de 2024, Bradesco, Itaú e Santander conseguiram reduzir o índice de atraso. Em relação ao início deste ano, ele permaneceu estável para os dois primeiros e reduziu 0,2 ponto percentual para o Santander.
No entanto, uma mudança contábil pode estar distorcendo os dados. A resolução 4.966 do CMN (Conselho Monetário Nacional), que passou a valer neste ano, permite que bancos carreguem créditos em atraso por prazos superiores a um ano, sem declará-los como perda, o que pode elevar a inadimplência da carteira como um todo, impactando o dado do BC.
Quando o banco classifica que não irá receber o empréstimo concedido, ele sai do cálculo de inadimplência, que é feito com base em valores a receber. O contrário também é válido, com bancos declarando perdas mais rápido e limpando o balanço.
Já a queda na inadimplência no Santander, segundo analistas, é fruto de uma redução na concessão de crédito do banco, que foi o mais cauteloso entre os três. Isso também o levou a crescer levemente abaixo do esperado.
"Os juros já estão em dois dígitos há três anos. O Brasil está acostumado com juros altos, mas empresas alavancadas estão se financiando a 20%, 25% ao ano, muito por conta da Selic em 15%. O fato de o Brasil estar com juros altos há mais tempo leva a desafios nos portfólios [de crédito]", disse Mario Leão, CEO do Santander, ao comentar o resultado do banco.
O executivo destacou que o cenário também eleva o risco para pequenas e médias empresas, além dos clientes de baixa renda.
"Aqui não é para tirar a baixa renda do nosso mapa, ao contrário, a gente precisa da baixa renda, mas da baixa renda certa. E a gente tem sido, portanto, mais seletivo [...] todo o foco de aceleração na pessoa física está voltado para alta renda", afirmou Mario Leão na teleconferência com analistas.
Para a Genial Investimentos, esse afunilamento deve atrasar a recuperação da rentabilidade do banco, que visa voltar a um ROAE (Retorno Sobre Patrimônio Médio, na sigla em inglês) de 20% -e atualmente está em 16,4%.
"Diante disso, a gestão adiou essa meta para 2027, reconhecendo que o ambiente macroeconômico mais restritivo e o ciclo de crédito mais seletivo devem atrasar a recuperação plena da rentabilidade", afirmam os analistas da Genial.
De olho neste cenário mais desafiador com a Selic em 15%, a matriz do Santander provisionou 467 milhões de euros (R$ 3 bilhões) para suportar possíveis deteriorações na sua unidade brasileira.
Para Rosman, do BTG, a resiliência da economia brasileira é mais importante para bancos em trajetória de recuperação, caso do Santander e do Bradesco.
Na sua expansão de carteira de crédito, o Bradesco tem priorizado os empréstimos com garantia. O CEO Marcelo Noronha destacou que o banco segue seu plano de reestruturação de longo prazo, mas "sem fazer nenhuma loucura de crescer carteira de crédito e ter soluço".
O aumento nos empréstimos quando a Selic estava baixa, durante a pandemia, acabou derrubando o resultado dos bancos em 2023 com a volta da Selic de dois dígitos, especialmente com a inadimplência de clientes de baixa renda.
"Os resultados operacionais do banco estão melhorando de forma rápida e sustentável, em nossa visão. O mais importante é que a capacidade de geração de receita do banco parece ter sido restaurada por meio de uma combinação de crescimento da carteira de crédito, gestão de spreads [diferenças entre juros pagos e cobrados], receitas de serviços e seguros", afirmam, analistas do Itaú BBA.
Com maior exposição à alta renda, o Itaú Unibanco foi menos afetado por essa deterioração e também apresenta maior resiliência no momento, avaliam analistas. A instituição tem o maior lucro, ROAE e carteira de crédito dentre os três e a menor inadimplência.
"O resultado do segundo trimestre representa nada mais do que a continuidade do bom momento do banco, com expansão de lucro e rentabilidade, resultado dos ganhos de eficiência e foco na qualidade da carteira que o Itaú vem conseguindo imprimir com consistência -praticamente sem deslizes ao longo dos últimos anos", diz Rafael Reis, analista do BB Investimentos.
O ponto negativo seria o alto investimento do banco em tecnologia e inovação. Porém, a aposta do mercado é que isso se traduza em custos menores no futuro.
Tanto Itaú como Bradesco não relataram ter sido impactados pela onda de recuperações no agronegócio, diferente do Santander e do Banco do Brasil. Este último tem a maior exposição ao setor e já registrou impactos nos três primeiros meses do ano.
Na semana passada, balancetes do BB relatados ao Banco Central indicaram um resultado abaixo do esperado nos meses de abril e maio, o que levou a uma queda de quase 7% nas ações da instituição. O resultado trimestral a estatal será divulgado no próximo dia 14 e a expectativa é que seja o pior do setor.
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