Inquérito da Polícia Civil aponta irregularidade de transporte clandestino, mas descarta situação de rua de passageiros
Reportagem: Lucas Maia e Thiago Aquino / Edição: Nordeste Sem Fake * Agencia Tatu
Circula nas redes sociais a informação de que o município de Teofilândia, na Bahia, teria enviado um ônibus com pessoas em situação de rua para Florianópolis, em Santa Catarina. A informação é falsa. O Ministério Público de Santa Catarina e a Polícia Civil do estado apuraram irregularidades no transporte clandestino, mas descartaram que passageiros fossem pessoas em situação de rua.
O que estão dizendo?
Uma das publicações enganosas no Telegram afirma que o Ministério Público de Santa Catarina “identificou que o interior da Bahia está recolhendo mendigos de ruas e levando de ônibus fretado para Florianópolis”. As postagens citam que um ônibus teria saído de Teofilândia (BA) para Florianópolis (SC) e utilizam o link ou uma captura de tela de uma matéria do site NSC Total.
Na rede social X, antigo Twitter, algumas publicações utilizam a foto do prefeito baiano Higo Moura (Republicanos) vestido com uma camisa de apoio ao presidente Lula da época da eleição presidencial. “Achei que o PT gostava dos pobres! Parece que nem tanto”, diz um dos posts. Várias postagens levantam a ideia de que políticos do Partido dos Trabalhadores estariam com essa iniciativa para “sabotar” governos do Sul do país.
O caso mencionado aconteceu em janeiro de 2024, quando um ônibus foi observado pela Guarda Municipal de Florianópolis realizando o desembarque em local irregular. A Polícia Militar de Santa Catarina confirmou que uma equipe foi acionada para dar apoio à abordagem. Com a repercussão, o Ministério Público e a Polícia Civil de Santa Catarina iniciaram as apurações. Ao Nordeste Sem Fake, os órgãos esclareceram o caso.
O inquérito da Polícia Civil de Santa Catarina não foi concluído ainda, mas já apurou por meio da Delegacia de Combate ao Crime Organizado que as pessoas envolvidas no caso mencionado não vivem em situação de rua.
A delegada Carolina Surita Wojahn informou que, na verdade, o que está em investigação é a irregularidade do transporte que colocou os passageiros em situação de vulnerabilidade durante o percurso. “Uma cópia do inquérito será encaminhada à ANTT para as providências administrativas cabíveis”, acrescentou por meio da assessoria de Comunicação.
A 30ª Promotoria de Justiça da Capital, de Santa Catarina, disse que “está apurando a vinda de pessoas para Florianópolis em suposta situação de vulnerabilidade” e que falta apenas “ouvir a ANTT a respeito da regularidade do ônibus, da empresa e do motorista”. O que está em questão, de acordo com o Ministério Público de Santa Catarina, é a vulnerabilidade dos passageiros durante a viagem e não a condição social deles.
“Essas pessoas estavam em situação de vulnerabilidade em função do trajeto que foi percorrido de forma irregular. E o que consta, de acordo com o Promotor de Justiça Daniel Paladino, é que não teria sido somente uma viagem, mas possivelmente um trajeto irregular que era feito toda semana, da Bahia para Santa Catarina”, informou o MP por meio de nota.
Apesar do título enganoso de um dos sites que divulgaram as informações sobre o caso, de que os 44 passageiros fossem pessoas em situação de rua, o texto não informa qual fonte teria dado a declaração, mas apenas citações do promotor Daniel Paladino sobre a investigação. O Nordeste Sem Fake questionou por e-mail a redação de um dos sites sobre a informação do título da matéria, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.
O que diz a Prefeitura de Teofilândia
À Agência Tatu, a assessoria de imprensa do município de Teofilândia ressaltou que as informações compartilhadas se tratam de desinformação. “A notícia foi recebida com espanto e choque uma vez que o município de Teofilândia não possui “população de rua”, informou. A reportagem consultou o Painel de Pessoas em Situação de Rua, do Ministério dos Direitos Humanos, onde realmente não consta registro de moradores nessa condição no município baiano.
A Prefeitura apontou ainda que a polêmica criada a partir do caso pode ser classificada como crime. “Hoje os xenofóbicos não fazem a menor questão de esconder seus preconceitos. Todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis estão sendo avaliadas e tomadas diante a notícia mentirosa que foi publicada”, informou.
Já a Prefeitura de Florianópolis confirmou que teve conhecimento do caso e repassou as informações apuradas ao Ministério Público, mas não informou se teria constatado que os passageiros fossem pessoas em situação de rua.
Relato de passageiros
Assim como vários passageiros negaram à reportagem do G1, na época, que fossem pessoas em situação de rua. Uma fonte de Florianópolis declarou à Agência Tatu que conhece um dos passageiros, que não quis se identificar, mas que garantiu que o veículo foi alugado para que pessoas de origem baiana, mas que residem em Florianópolis, fossem visitar familiares em diversas cidades da Bahia “pagando mais em conta” pela passagem.
Nordeste Sem Fake
A editoria Nordeste Sem Fake, da Agência Tatu, monitora diariamente diversas redes sociais em busca de publicações com conteúdos potencialmente falsos. Mais checagens de fatos estão disponíveis no site.
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