por Fernando Duarte / BN
O PSL de Jair Bolsonaro é um partido como outro qualquer, ainda que os aliados do presidente eleito insistam que existe uma diferença entre a legenda e a velha política. Apesar de não ter feito concessões para indicações partidárias na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro não deixou de fazer acenos aos pares do Congresso Nacional quando escolheu alguns de seus auxiliares. Agora, fora do âmbito federal, o PSL começa a jogar dentro das regras da política tradicional. O exemplo mais claro disso é a indicação de Alberto Pimentel em Salvador para uma secretaria do governo de ACM Neto.
Ainda não foi formalizada a adesão da legenda à base do prefeito da capital baiana. Apesar da ligeira proximidade ideológica – DEM e PSL aparentemente coadunam de uma agenda econômica em comum -, o partido até o começo de 2018 era ferrenho opositor do gestor soteropolitano. O único representante do PSL na Câmara de Vereadores, José Trindade, chegou a liderar a bancada de oposição e era crítico feroz de ACM Neto. No entanto, Trindade deixou o PSL por causa da filiação de Bolsonaro e, com isso, o partido perdeu representação no Legislativo.
Naturalmente, uma legenda sem presença na Câmara de Vereadores dificilmente tem força para angariar espaços no Executivo. Porém não é que deve acontecer com o PSL em Salvador. ACM Neto ainda não cravou, porém afirmou publicamente que “possivelmente” a Secretaria Municipal de Trabalho, Esportes e Lazer deve ficar sob responsabilidade do partido do presidente da República. O aceno é claro: o prefeito não quer briga com a legenda de Bolsonaro e agradar o braço baiano dela é um bom plano.
O nome que deve ocupar o posto não teria como ser mais próximo da comandante da sigla na Bahia, a deputada federal eleita Dayane Pimentel. Alberto é casado com ela e foi um dos principais coordenadores da campanha que levou a ilustre desconhecida a uma das votações mais expressivas para a Câmara dos Deputados na Bahia. É um misto de política da velha guarda com nepotismo clássico, ainda que não haja nenhum tipo de ilegalidade na indicação do futuro secretário.
A robustez da secretaria destinada ao PSL também impressiona. Foi na Secretaria de Trabalho, Esportes e Lazer que o vereador Geraldo Jr. (SD) se viabilizou candidato à presidência da Câmara de Salvador, onde deve tomar posse no começo de 2019. Para uma sigla sem presença no Legislativo soteropolitano, é um presente que não garante qualquer tipo de retorno objetivo na política de alianças local. Apenas abre espaço para as conversas do DEM com o PSL no nível estadual e federal.
Essa proximidade entre as legendas já era observada desde a campanha. Enquanto formalmente o PSL estava coligado com o PRTB e a candidatura de João Henrique, a maior parte da sigla se dizia mais próxima de José Ronaldo, do DEM, na corrida pelo Palácio de Ondina. Mais tarde, ainda durante a campanha, o ex-prefeito de Feira de Santana antecipou o anúncio de que estaria com Bolsonaro às vésperas do primeiro turno – o que acabou concretizado no segundo turno com o apoio formal de ACM Neto ao presidente eleito.
Como argumento retórico, Dayane e ACM Neto vão justificar que não há nada de anormal na chegada de Alberto Pimentel e do PSL no secretariado de Salvador. Eles estão certos. Porém, fingir que isso é parte da nova política, é exigir demais.
Este texto integra o comentário desta sexta-feira (14) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
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