por Fernando Duarte / BN
Diferente da truculência habitual no trato que Geddel Vieira Lima tinha com a imprensa quando o assunto não lhe era agradável, o deputado federal Lúcio Vieira Lima era mais bonachão. Fazia piada até quando era alvo de perguntas incisivas e, normalmente, se saía bem de embaraços causados pelo entrevistador. Era uma boa estratégia, visto que a pedagogia do constrangimento impele aquele que pergunta a ficar calado. Entre os irmãos Vieira Lima que ocuparam cargos públicos, Lúcio é bem mais simpático se comparado a Geddel. As próprias publicações em redes sociais mostram que o mais jovem da dupla ria de si mesmo com mais frequência. Desde o medo de avião até o cãozinho da filha, que ganhou perfil no Instagram, numa tentativa de formar um dog influencer, Lúcio era bem falante e tinha resposta para tudo – ou quase tudo. Era assim até bem pouco tempo. Já após a primeira prisão de Geddel, no começo de julho, o então presidente da Comissão Especial da Reforma Política submergiu um pouco e deixou de ser tão falastrão. Apareceu pontualmente e, aliado a uma licença médica, conseguiu passar pouco percebido até meses depois do primeiro baque da detenção do irmão. O bunker com R$ 51 milhões transportou Lúcio direto para o furacão em que o ex-ministro se envolveu – e que o colocou na cadeia, juntamente com um antigo aliado, o ex-diretor da Defesa Civil de Salvador, Gustavo Ferraz. Foi para Lúcio que o apartamento na Graça foi emprestado e nele a Polícia Federal fez a maior apreensão em dinheiro vivo da sua história. No imóvel, além da fatura de uma empregada dele, a PF localizou também traços de impressões digitais do deputado. Sim, era esperado que Lúcio estivesse presente naquela cena dantesca. Porém o foro privilegiado, garantido pelo cargo na Câmara dos Deputados, fez com que ele fosse “preservado” do escândalo das malas de dinheiro em um primeiro momento. Nesta segunda-feira (16), todavia, acabou a serenidade contra Lúcio. O parlamentar passou a ser investigado a partir do cumprimento de mandados de busca e apreensão em sua residência e também no gabinete em Brasília (DF). Para quem falava sobre muita coisa, o silêncio se torna perturbador. É quase o silêncio que precede o esporro. E, caso resolvam falar, Geddel e Lúcio podem abalar a cena política brasileira tanto quanto outros interlocutores que, mal ou bem, sabem demais. Saudades dos Vieira Lima que discorriam sobre tudo. O caminho trilhado pelo PMDB praticamente se confunde com a história dos governos recentes do Brasil pós-ditadura. E é por isso que o silêncio deles é tão inconveniente para quem espera ouvir sobre os bastidores da política. BN
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