“Se deixarem terceirizar não sobra um bancário para contar a história. Se agora já tem muito terceirizado trabalhando em banco, com isso sobrará só eles. Vamos ter que bater na porta dessas empresas [terceirizadas] para pedir emprego”, afirmou um funcionário do Itaú, sobre o avanço da terceirização, seja por meio do julgamento no Supremo Tribunal Federal ou com o Projeto de Lei Complementar (PLS 30/2015), o antigo PL 4330, que libera a terceirização para todos os setores de uma empresa, inclusive sua atividade-fim.
A afirmação foi feita na última sexta-feira (11), durante as paralisações dos bancários de São Paulo, que ocorreram nas principais concentrações de bancos públicos e privados, como no Complexo São João do Banco do Brasil, na Caixa da Avenida dos Autonomistas, no CAT e no ITM do Itaú, no Telebanco Santa Cecília do Bradesco, e no Vila Santander, marca
“Terceirizar serviços bancários não é bom para os trabalhadores, porque vai reduzir o salário. É só ver quanto eles ganham e comparar. Terceirizado trabalha mais, não tem os mesmo diretos que o bancário tem”, elenca um colega do Santander.
Um gerente de agência do Bradesco também se mostrou muito preocupado. “Se esse PL passar, todos os cargos no banco poderão ser terceirizados. Isso é uma grande ameaça a toda a categoria bancária. A atividade-fim não pode ser terceirizada.”
O bancário do Itaú criticou também a Reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer. “Aposentar aos 65 anos é impossível. Você não vê quase pessoas dessa idade trabalhando em banco. São poucos. Se o banco me demitir com 50 anos, onde vou conseguir outro emprego até poder me aposentar?”
Uma empregada da Caixa critica as ações do governo Temer, lembrando que a reforma da previdência, que prevê aumentar a idade mínima de aposentadoria para 65 anos, a reforma trabalhista que ataca a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e o projeto de lei da terceirização sem limites são ameaças que partem do mesmo princípio. “O governo quer aproveitar esse momento, que foi desfavorável para os trabalhadores inclusive nas urnas, para fazer o mal de uma vez. Tudo que temos direito, até mesmo a CLT, está sendo atacado”.
O bancário do Bradesco considera injusta a proposta do governo. “Não é justo que uma pessoa que começou a trabalhar com 15 anos, como eu, só possa se aposentar com 65. Mesma idade de quem começou a trabalhar só depois da faculdade, com mais de 20. Não tem de ser por idade, mas por tempo de contribuição”, opina.
“Se as pessoas não perceberem que vai sobrar para elas pagar pela crise, não fizerem nada, tudo vai piorar. Se já está ruim hoje, se tirarem dinheiro da educação e saúde, aí que não teremos futuro nenhum mesmo”, disse o bancário do Itaú, ao se referir à Proposta de Emenda à Constituição 55 (antiga PEC 241), por meio da qual o governo Temer pretende congelar investimentos públicos em saúde e educação públicos por 20 anos.
“Uma coisa é a condição financeira do Estado, que tem mesmo de ser resolvida, mas não dá pra fazer isso prejudicando serviços básicos como educação, saúde, saneamento… Não pode deixar o cidadão sem isso”, criticou o colega do Bradesco.
“Eu não concordo com a PEC porque vai diminuir os investimentos e piorar ainda mais o que já é ruim. É muito transmitido para nós a parte boa [dessa medida], mas tem que mostrar também a parte ruim. E o povo não sabe, porque é mal informado. Eu acho que a discussão tem que ser mais transparente. E se for mais transparente, todo mundo vai ser contra”, disse o trabalhador do Santander, ao ouvir as exposições do Sindicato dos Bancários de São Paulo na mobilização.
Para um funcionário do Banco do Brasil a PEC 55 e a terceirização são as principais ameaças à sociedade. “Com a PEC 55 quem mais vai ganhar são os rentistas, que continuarão a receber os juros da dívida publica e o setor privado das áreas de saúde e educação. Os trabalhadores e o povo em geral vão sair perdendo porque vai acabar destruindo a saúde e a educação públicas”, salientou.
“Com a terceirização, corremos o risco de perder todos os direitos que a categoria conquistou, e o único objetivo deles [setor patronal] é diminuir custos. Para nós [trabalhadores] não tem outra saída que não seja paralisações, atos, que não seja o trabalhador ir para as ruas e tentar barrar esse governo que na minha opinião é ilegítimo. O programa que eles estão implantando e que só afeta a classe trabalhadora não foi eleito pelo povo, não passou pelo crivo das eleições, por isso não tem legitimidade”, enfatiza. (Sul21/Da CUT-RS/Foto: Maurício Morais/Anju)
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