"Nunca quis fazer o exame de toque por preconceito. Como tive avô e pai que morreram com câncer na próstata, fazia o PSA, mas não o mais simples. Tenho mestrado e doutorado, mas o pensamento era tacanho”. As palavras do professor aposentado Ronaldo Cavalcante servem de alerta para os homens brasileiros, especialmente os maiores de 50 anos, que são os alvos da campanha Novembro Azul. “Hoje, minha é luta é convencer meus filhos da importância de uma prevenção bem feita”, completa. A descoberta aconteceu em 2011, quando ele estava com 65 anos e precisava da liberação médica para começar a participar de um clube de corrida. “Já havia feito o exame do PSA naquele ano, no entanto, os exames mostraram que em pouquíssimos meses o quadro havia sido alterado drasticamente e me assustei”, conta. Hoje, depois da cirurgia, químio e radioterapia, Ronaldo mantém a vigilância sobre a doença e trata de viver com a melhor qualidade de vida possível.
“A doença me fez repensar a vida de modo muito significativo e descobri que a gente vive se matando... de trabalhar, de correr atrás de dinheiro, e esquece de viver... hoje, vivo para mim e para os que amo”, completa. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), todos os anos, 61 mil novos pacientes são diagnosticados com a doença, que é o segundo câncer mais comum na população masculina, só perdendo para o câncer de pele. Apesar dos índices, é importante ressaltar que, quando diagnosticado precocemente, as chances de cura ultrapassam 90%. O oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia André Bacelar lembra que o cuidado e a campanha se justificam na medida que, com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população, o câncer de próstata passa a ter um impacto importante. “É sabido que, aos 80 anos, 80% dos homens terão alteração na próstata”, diz o médico, ressaltando que o papel dos profissionais de saúde é detectar o problema nos indivíduos, identificando aqueles que precisarão de tratamento e os que devem ser acompanhados. No caso específico de Salvador, o oncologista lembra que a ascendência negra termina sendo um reforço para esse cuidado, pois os negros estão mais propensos a desenvolverem a doença. Herança De acordo com o chefe do serviço da Cardio Pulmonar e professor da Universidade Federal da Bahia, o urologista Lucas Batista, quando existem casos na família, a vigilância precisa ser ainda mais rigorosa e a prevenção deve começar mais cedo, aos 45 anos. “Se o pai ou tio tiveram câncer de próstata, a chance de ter a doença é três vezes maior do que aqueles que não possuem casos na família. Quando é um irmão, as chances aumentam em até quatro vezes, daí a importância das famílias prestarem atenção nesse traço”, reforça o médico. Lucas Batista lembra que, quanto mais rápido os casos de câncer forem identificados e tratados, menores serão as sequelas do tratamento ou o risco de desenvolvimento de disfunções sexuais, como os problemas de ereção. “Quando o câncer está localizado, está em fase inicial e pode ser removido com técnicas minimamente invasivas, conseguimos preservar as terminações nervosas responsáveis pela ereção”, garante o especialista, lembrando que apenas 10% dos pacientes tratados terão incontinência urinária, mas em 60% dos casos, haverá preservação da ereção e da função sexual. “Além de contornar dois dos principais receios masculinos, o diagnóstico precoce e as cirurgias – feitas por laparoscopia ou a robótica – possibilitam que o paciente sinta menos dor e incômodos, use sonda por um tempo menor e volte à vida normal em um tempo muito menor”, completa Lucas Batista, destacando que, enquanto na cirurgia aberta a recuperação pode durar até um ano, nas minimamente invasivas o paciente se recupera em três meses. “Embora a cirurgia robótica seja realizada apenas em São Paulo, a laparoscopia é uma técnica bem comum na Bahia, inclusive pelo Sistema Único de Saúde”, diz o urologista, que também atua no Hospital das Clínicas (Hupes/Ufba). Como não se pode interferir no envelhecimento nem na ascendência e hereditariedade, a alternativa para manter a próstata saudável é investir em prevenção. No caso dos homens, vale salientar que as medidas são simples e, além de serem efetivas contra o câncer, também têm um impacto bem positivo na prevenção de outras doenças crônicas como o diabetes, as cardiopatias, entre outras. O oncologista André Bacelar diz que as medidas protetivas estão voltadas para uma alimentação saudável, baseada em folhas, frutas, verduras e legumes, com pouca gordura animal e o mínimo de produtos industrializados ou muito processados. “Além disso, é fundamental que os homens digam não ao sedentarismo e invistam numa atividade física, além de evitar o tabagismo e a ingesta excessiva do álcool”, completa o oncologista.
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