Partidários do presidente Nicolás Maduro participam de manifestação, em Caracas, no dia 22 de junho de 2016
A Venezuela vive um novo episódio de tensões. Os chavistas se manifestaram maciçamente nesta terça-feira em uma contraofensiva frente ao protesto de quinta-feira convocado pela oposição para exigir o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.
Com o nome de "Tomada da Venezuela", os seguidores do governo, vestidos de vermelho, começaram a se concentrar em um setor central de Caracas e em outros pontos do país em apoio a Maduro e à revolução socialista de Hugo Chávez (1999-2013).
Ante uma multidão na Plaza Caracas, no centro da capital venezuelana, o presidente acusou a oposição de planejar um golpe de Estado e ameaçou mandar seus dirigentes para a prisão se eles incitarem atos de violência na manifestação de quinta-feira.
"Há que se derrotar o golpe de Estado sem impunidade. Quem se envolver no golpe, ou estimular a violência, vai preso, cavalheiro. Chorem ou gritem, serão presos!", advertiu Maduro.
A opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) ajeita os detalhes para o que chama de a "Tomada de Caracas", com a qual na quinta-feira pedirá a aceleração do processo do revogatório ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de servir ao chavismo.
"Que ninguém se deixe intimidar", conclamou o líder opositor Henrique Capriles, que em entrevista à AFP assegurou que tem início agora uma nova etapa de mobilizações para obrigar o governo a aceitar o referendo.
Tanto o governo quanto a oposição têm trocado acusações nos últimos dias sobre atiçarem a violência nas manifestações, aumentando o temor na população de ocorrerem incidentes.
Alguns comércios no leste de Caracas, que a MUD previu como pontos de chegada de opositores de várias cidades do país, planejam fechar na quinta-feira. "Vou ao protesto, porque o país está mal e temos que nos pronunciar", disse à AFP María Rodríguez, que vendia biscoitos a um pedestre em seu quiosque.
Imersa em uma profunda polarização política, a Venezuela sofre uma grave crise econômica com a escassez de produtos básicos que chega a 80% e uma inflação que foi de 180% em 2015, a mais alta do mundo, e que segundo o FMI chegará a 720% esse ano.
"Nem que prendam todos nós"
Deputados da maioria opositora no Parlamento denunciaram nesta terça-feira a "perseguição" contra dirigentes da MUD. A oposição assegura que o governo está "amedrontando" seus seguidores para evitar que se manifestem.
"Vê-se uma aumento seletivo no isolamento de dirigentes" da MUD, assegurou nesta terça-feira o chefe parlamentar e anti-chavista Henry Ramos Allup.
As autoridades venezuelanas enviaram à cadeia, no sábado, o ex-prefeito opositor Daniel Ceballos, que estava em prisão domiciliar há um ano, acusando-o de planejar sua fuga e preparar atos violentos para quinta-feira.
Na segunda-feira, detiveram em Caracas o opositor Yon Goicochea, acusado de portar detonadores para explosivos que segundo o governo seriam usados no protesto. A oposição rejeitou as acusações.
"Nem se prenderem todos nós irão evitar que as pessoas saiam para lutar por uma mudança democrática, eleitoral e pacífica", expressou o deputado opositor Tomás Guanipa, que acusou o governo de "plantar" provas contra Goicochea.
O Sindicato dos Jornalistas denunciou um ambiente difícil para a imprensa. Pessoas não identificadas lançaram, nesta terça-feira, bombas incendiárias contra o jornal El Nacional, de linha opositora, enquanto jornalistas da emissora árabe Al Jazeera, que viajaram até a Venezuela para cobrir o protesto, não obtiveram permissão de entrada ao chegar no aeroporto.
"Não vão entrar"
Ante as denúncias de que a oposição organiza um golpe de Estado conduzido do exterior pelos Estados Unidos, o dirigente chavista Jorge Rodríguez sentenciou nesta terça-feira, na manifestação, que no centro de Caracas os opositores "não vão entrar".
"Presume-se atos de violência e desestabilização (...) Quando uma manifestação se transforma em violenta, esse direito se perde", advertiu o ministro do Interior, o general Néstor Reverol, que analisa o dispositivo de segurança com chefes policiais.
A Igreja Católica venezuelana pediu nesta terça que o governo respeite "o direito legítimo" à manifestação. A oposição denunciou que as autoridades estão impedindo a chegada de seguidores vindos de outras regiões do país.
O secretário-executivo da MUD, Jesús Torrealba, confirmou que o ex-presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero - que lidera uma mediação para um diálogo entre o governo e a oposição - "chega hoje, se é que ainda não chegou", ao país junto com o ex-presidente panamenho Martín Torrijos, também integrante dessa missão.
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