Supondo-se que o Senado mandará Dilma Rousseff para Porto Alegre em agosto, a presidência-tampão de Michel Temer terá de se erguer sobre duas pernas até 2018: a perna do ajuste econômico e a perna da restauração moral. Nesta quarta-feira, enquanto Temer mostrava aos líderes partidários que sua proposta de teto para os gastos públicos pode conduzir ao céu econômico, Sérgio Machado, um delator antropófago a caminho do inferno, mordeu-lhe o calcanhar ético.
Vieram à luz depoimentos em que o ex-presidente da Transpetro revela-se um provedor multipartidário de propinas. Ele arrasta Temer para o epicentro da encrenca ao dizer que, em 2012, forneceu ao atual presidente interino da República uma propina de R$ 1,5 milhão. Dinheiro sujo destinado à campanha de Gabriel Chalita, então candidato de Temer à prefeitura de São Paulo.
Temer nega que tenha pedido o dinheiro. Machado oferece detalhes: a) encontrou-se com Temer na Base Aérea de Brasília, provavelmente em setembro de 2012; b) estava em carro alugado; c) identificou-se na entrada; d) acertou o valor com Temer; e) “o contexto da conversa deixava claro que o que Michel Temer estava ajustando com o depoente era que este solicitasse recursos ilícitos das empresas que tinham contratos com a Transpetro na forma de doação oficial para a campanha de Chalita.”; f) a verba saiu da caixa registradora da construtora Queiroz Galvão.
A investigação dirá de que lado está a verdade. Mas, desde logo, é preciso reconhecer: diferentemente do déficit fiscal, estimado em R$ 170,5 bilhões para o ano de 2016, o déficit estético do governo Temer é incalculável. Já não basta ao presidente interino dizer que tem apreço pela Operação Lava Jato. Temer precisaria gritar ao mundo que tem desapreço pelo pedaço do PMDB que é cúmplice do PT no assalto às arcas do Estado brasileiro. Algo que ele parece não ter condições de fazer.
O descompasso entre o discurso e a prática de Temer cresce na proporção direta do avanço da Lava Jato sobre os porões do PMDB. Ironicamente, Temer vai ficando em situação análoga à de Lula e Dilma Rousseff. Preside o PMDB federal há 15 anos. Não é razoável supor que não soubesse que sua legenda converteu-se em parte de uma organização crimonosa. Ou sabe disso ou é um tolo.
Temer faria um bem extraordinário à sua administração se tomasse distância da banda vadia do PMDB. Sob pena de ser visto como um presidente incapaz de saciar a fome de limpeza que está no ar.
JOSIAS DE SOUZA
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