Alessandro Thiers não é mais titular da DRCI Foto: Guilherme Pinto / 18.02.2014
Carolina Heringer e Luã Marinatto
O delegado Alessandro Thiers foi dispensado, nesta terça-feira, da titularidade da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). A exoneração foi publicada em boletim interno da Polícia Civil no início da noite, nove dias após ser afastado das investigações sobre o estupro coletivo sofrido por uma adolescente de 16 anos no Morro da Barão, na Praça Seca, Zona Oeste do Rio. Na ocasião, a delegada Cristiana Bento, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), passou a conduzir o caso. http://extra.globo.com
Segundo o delegado Ronaldo Oliveira, diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada (DPGE), Thiers entregou o cargo. Fontes ouvidas pelo EXTRA, porém, afirmam que sua saída se deu por conta da evolução das investigações da Dcav acerca do estupro, apontando para a ocorrência de abuso sexual contra a jovem. Procurado, o delegado preferiu não comentar o afastamento.
A nova delegada da DRCI é uma mulher, Daniela Terra, que estava à frente da 33ª DP (Realengo). Ela e Cristiana Bento ingressaram juntas na corporação. Alessandro Thiers, por enquanto, permanece sem a titularidade de nenhuma unidade. Já a 33ª DP passa para as mãos da delegada Márcia Cristina Lopes, antes na 40ª DP (Honório Gurgel).
Logo após Thiers ser afastado das investigações sobre o estupro coletivo, o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, chegou a afirmar que a corporação iria "avaliar se houve falta de habilidade na questão do trato com a vítima". O Ministério Público do Rio também pediu, na ocasião, a abertura de inquérito para apurar a conduta do delegado ao longo do caso. Já a adolescente, em entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, disse:
— O próprio delegado me culpou. Quando eu fui à delegacia eu não me senti à vontade em nenhum momento. Eu acho que é por isso que muitas mulheres não fazem denúncias. Tentaram me incriminar, como se eu tivesse culpa por ser estuprada.
Ao colher o depoimento da jovem, Alessandro Thiers estava acompanhado da namorada, que não é policial. De acordo com o relato da menina às autoridades — como revelou a colunista Berenice Seara, da coluna "Extra, Extra" —, a moça fazia carinho no então titular da delegacia, enquanto dois inspetores ouviam seu relato.
Na última segunda-feira, convocado pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para falar em uma audiência pública sobre cultura do estupro, Thiers não compareceu ao evento, enviando uma representante para dizer que está de férias. Os deputados decidiram, então, publicar uma moção de repúdio ao delegado.
Ataques à vítima em conversa
No dia seguinte ao afastamento das investigações sobre o estupro, vieram à tona conversas mantidas por Alessandro Thiers em um grupo de policiais no WhatsApp, aplicativo de troca de mensagens. Nos diálogos, o delegado desqualificava a vítima do abuso.
"Alguns esclarecimentos sobre os fatos", começa ele, para em seguida dizer que o "termo de declaração da adolescente foi filmado". Ele comenta a entrevista da jovemao "Fantástico", na qual ela contou detalhes sobre como se sentiu após o estupro coletivo: "No 'Fantástico', era outra pessoa. Sabe que temos fortes indícios de que não existiu estupro".
O policial prossegue: "Ela teve relação consentida com uma pessoa e não usou drogas ou álcool nesse dia, conforme ela e as pessoas que estavam com ela declararam. O relato de abuso que ela fala no 'Fantástico', ela relata que foi há tempos atrás e inclusive que os autores não foram mortos pelo chefe do tráfico local por pedido da adolescente. O único crime seria a divulgação do vídeo".
O delegado ainda diz que "tem o envolvimento claro da adolescente com pessoas ligadas ao tráfico, tendo a mãe inclusive declarado que a filha é a todo o momento aliciada e que bastaria saber atirar para trabalhar no tráfico". Ele continua e afirma que "diversas pessoas, inclusive a própria adolescente, confirmaram que a mesma frequentava a comunidade da Barão, inclusive com contato direto e íntimo com traficantes da área".
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