Município fluminense de Itatiaia (RJ) nunca teve empresa responsável por saneamento. Localizada entre as divisas de São Paulo e Minas Gerais, Itatiaia (RJ) está no que pode ser considerado o “coração da crise hídrica” no Sudeste brasileiro.
Mas o pequeno município, de 28 mil habitantes, vive uma situação diferente das cidades vizinhas. Primeiro, porque tem fontes próprias de água. Segundo, porque nenhum morador recebe a conta no fim do mês. Será que está sobrando água por lá? O R7 foi tirar a dúvida. Confira nas próximas fotos.
Itatiaia está às margens do rio Paraíba do Sul, onde fica a represa do Funil, que atingiu recentemente o menor nível da história. Se não chover o suficiente na região, as turbinas da usina hidrelétrica poderão parar ao longo do ano.
Se a cidade não depende do rio Paraíba do Sul, de onde vem a água? Para entender um pouco melhor como é feito o abastecimento do município, é preciso subir a Serra da Mantiqueira, dentro do Parque Nacional do Itatiaia. A mais de 1.000 m de altitude está uma das fontes de água: o rio Campo Belo, que garante hoje o banho de aproximadamente 20 mil moradores da região central.
A água sai do alto da montanha, desce, passa por um tratamento simples, com cloro, e chega às casas da população simplesmente com a força da gravidade. Não há em Itatiaia reservatórios e muito menos bombeamento. A tubulação também não é como deveria ser: pressurizada.
O aspecto da água que chega às torneiras nem sempre estimula os moradores de Itatiaia a bebê-la. Juliana Mendonça explica a razão:
— Quando chove forte, a água sai puro barro, marrom. Tem que esperar uns dois dias até voltar ao normal. Fora isso, sai sempre esbranquiçada, por causa do cloro.
O marido dela tem uma loja que vende água mineral. Juliana garante que muita gente vai até lá porque não confia na água gratuita distribuída pela prefeitura.
— Já houve casos de contaminação. Então, nunca se sabe. Tem muitas construções ao longo do rio que podem estar poluindo a água.
O receio de beber a água do rio Campo Belo é praticamente um consenso na cidade. Quem não tem condições de recorrer á água mineral, usa filtros em casa.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Domingos Baumgratz, explica o problema.
— Quando chove, tem um arraste de terra. Quando o tratamento não é aquele mais adequado, ele não consegue eliminar aquilo tudo de uma maneira eficiente. Isso se agrava porque não tem um reservatório de água. Se houvesse, essa terra sedimentaria no fundo antes de ir para as casas das pessoas.
Mesmo assim, ele diz que não há problemas em beber a água da torneira.
— Não é algo com o que as pessoas precisam se preocupar. Mas já houve algumas vezes um surto de diarreia na cidade. Aí não tem como escapar. O surto de diarreia é oriundo de doenças vinculadas ao curso d’água.
Mas esse não é o único problema enfrentado por Itatiaia. Não dá mais para continuar tendo água de graça. Pelo menos é o que pensa a atual administração municipal. O Estado do Rio de Janeiro elaborou um Plano de Saneamento Básico que começou a ser colocado em prática. O objetivo é que o fornecimento de água deixe de ser feito de forma antiquada e se equipare ao que é recomendado por autoridades sanitárias.
Mesmo tendo uma fonte "exclusiva" de água, isso não significa que Itatiaia esteja livre do desabastecimento. Mas o motivo nem sempre é a falta, mas a distribuição. Muitos moradores "disputam" com hotéis e pousadas.
A reportagem flagrou casos como esse, em que um imóvel de médio porte armazena de graça 75 mil litros de água, na região turística de Penedo.
Penedo, onde moram cerca de 5.000 pessoas, é um dos locais mais afetados quando há desabastecimento. Por três anos seguidos, durante o período de seca, já houve rodízio por lá.
Funcionário de uma pousada, Reinaldo de Oliveira diz que o local tem caixas d'água, mas que um poço construído lá também ajuda no abastecimento dos 20 quartos.
— Já vi casos de pousadas que tiveram que comprar água de caminhão-pipa. Aqui, se falta, o poço é uma solução.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Domingos Baumgratz, falou sobre as consequências negativas de não haver uma conta no fim do mês.
— Há um número enorme de hotéis e pousadas que armazenam mais do que precisam. Como a água não é cobrada, isso incentiva as pessoas a práticas desse tipo.
O secretário é claro ao dizer: "Não está sobrando água em Itatiaia". Por isso, a prefeitura corre para começar as obras que deverão beneficiar primeiro a região de Penedo. Baumgratz espera que até o fim de 2016, o distrito pague pela água que consumir.
Será instalada toda uma tubulação nova, estações de tratamento, reservatórios e os moradores terão que ter hidrômetros.
O turismo é hoje a principal atividade econômica de Itatiaia. Todos os meses a cidade recebe uma média de 7.000 visitantes, um quarto do total de habitantes. Os turistas são atraídos pelas pousadas, trilhas e cachoeiras da região.
Nos próximos anos, com a instalação de diversas fábricas na cidade, a indústria vai ser o principal contribuinte da economia de Itatiaia. Isso também significa que precisa haver mais controle ainda sobre a água. Todas as grandes empresas que forem captar água das nascentes do Parque Nacional precisam pedir autorização do Inea (Instituto Estadual do Ambiente). Atualmente, o município é sede de grandes multinacionais, como Hyundai, Procter & Gamble e Michelin.
O fato de não depender do rio Paraíba do Sul dá a Itatiaia uma situação confortável. Mas sem que o uso da água seja minimamente organizado, é impossível que todos os habitantes tenham o fornecimento garantido, principalmente, em época de mudanças climáticas, diz o secretário.
— A natureza foi muito elegante com Itatiaia. Tem a serra, a mata exuberante e tem os mananciais, que não precisamos depender da água do rio Paraíba do Sul. Apesar desse privilégio todo, a natureza não escolhe lugar, nem hora. Nós também, em período de estiagem, tivemos problemas de abastecimentos por três anos consecutivos. Além das obras necessárias, as pessoas precisam economizar. Fonte: R7
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