O terceiro debate entre os presidenciáveis desta terça-feira (16) na Rede Vida, organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), valeu mais pelas oito perguntas iniciais formuladas e lidas (em vídeos gravados antecipadamente) pelos bispos do que pelas respostas. Depois do posicionamento político de diferentes denominações evangélicas ganhar a mídia, agora foi a vez da Igreja Católica expor, de forma sutil, suas áreas de interesse na disputa de 2014.
Nas entrelinhas das perguntas formuladas pela CNBB ficou subentendido que o tema moral de 2014 é a questão gay, e não mais o aborto como foi no passado. A primeira pista disso foi dada pelo segundo bispo a fazer perguntas, Dom João Carlos Petrini, que ao indagar, no caso para o candidato Levy Fidelix, sobre o tema “família”, associou-a à ideia de “geração de filhos”. Se tivesse dito “guarda de filhos”, seria diferente. Mas não: a família deve gerar filhos.
Na pergunta seguinte, formulada por Dom José Belisário da Silva, sobre o tema “O Estado e a Religião”, o religioso perguntou, no caso a Luciana Genro, sobre a “laicidade” do Estado, sugerindo haver uma “intolerância” em relação à participação das “igrejas” (no plural) na política. A candidata do PSOL captou o sentido da pergunta e encaixou na resposta uma defesa ao “casamento homoafetivo”.
Depois, na seção de perguntas dos jornalistas vinculados às “mídias de inspiração católica”, o questionamento a Aécio Neves foi direto: “qual sua opinião sobre a homofobia?”. O tucano foi diplomático: condenou qualquer forma de discriminação, mas sugeriu que o texto do Projeto de Lei atual no Congresso pode não ser o ideal. Foi este ponto da criminalização da homofobia que, após “revisto”, causou problemas para Marina Silva no lançamento de seu programa de governo, episódio que teve o pastor Malafaia como ator coadjuvante.
Outros tópicos de perguntas dos bispos – sobre a desigualdade, analfabetismo, índios, direitos humanos, reforma política – são temas conhecidos da CNBB e não foram repetidos mais de uma vez pelos religiosos-entrevistadores no debate.
De forma sutil a CNBB passou sua mensagem.
O aborto, por sua vez, que dominou a agenda da campanha de 2010 durante semanas, foi tópico de uma pergunta apenas. Como se o tema, em realidade, já estivesse superado ou vencido. Indicativo de que os lobbies pró-aborto são no momento fracos demais para incomodar.
Pesquisas mostram que temas morais como aborto e opções sexuais pouco afetam a decisão de voto. Em tempos eleitorais são assuntos que parecem se vincular a outros interesses da política – de jogos de força e demarcação de espaços. Do Yahoo - Por Rogério Jordão | Rogério Jordão
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