CHRISTINA NASCIMENTO
Rio - De ascendência síria, o jovem Yan Jamil Aby Hacan, 19 anos, não imaginou que uma compra numa loja da telefônica Vivo, na Barra da Tijuca, terminaria num processo judicial por dano moral. A história, que agora está na 2ª Vara Cível de Santa Cruz, começou quando Yan fechou com uma vendedora um pacote de plano de celular com acesso à internet. Ao sair do estabelecimento, ele foi conferir o Termo de Adesão e Contrato. Sua surpresa foi descobrir que, no espaço para contato, estava escrito “Bode do Mulsumano” (sic).
“Quando falei meu nome, a vendedora riu, mas não imaginei o que iria acontecer. Já passei por constrangimentos, porque acham meu nome estranho. Só que nunca fizeram isso comigo. Quando olhei o documento, não acreditei no que estava escrito”, afirmou o rapaz. Ele trabalha como vendedor num shopping e, ao contrário do que sugere o termo no contrato da Vivo, ele não é muçulmano, seguidor da religião Islã.
O jovem, que tem o avô paterno sírio, entrou com ação judicial indenizatória contra a empresa de telefonia.
Yan Jamil Aby Hacan, 19 anos, entrou com ação na Justiça contra empresa de telefonia: ‘Não acreditei’Foto: Cacau Fernandes / Agência O Dia
Para o presidente do Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos do Brasil, o sheik Khaled Taky El Din, este tipo de episódio revela uma falta de informação das pessoas sobre a religião muçulmana. “Elas escutam uma propaganda negativa e, sem conhecer, ficam repetindo. Assim como em outras religiões, que devem ser respeitadas, seguimos os mandamentos de paz e igualdade”, afirmou o sheik. Ele disse, ainda, que o conselho tem feito um trabalho para esclarecer a população sobre o islamismo. Livros sobre o assunto são distribuídos no Rio de Janeiro e outras regiões. “Não se pode xingar, nem rir de alguém por causa da religião que ela segue, independentemente de qual seja”.
Os seguidores do Islã são cerca R$ 1,3 milhão de fiéis no mundo. Em 2012, a presidenta Dilma Rousseff, durante discurso, em Nova York, na abertura da 67ª Assembleia Geral das Nações Unidas, repudiou o preconceito contra a religião muçulmana e também a onda de ataques às representações diplomáticas dos EUA, depois da exibição de um filme anti-Islã. “(...) registro neste plenário nosso mais veemente repúdio à escalada de preconceito islamofóbico em países ocidentais”.
Audiência não chega a conciliação
Uma audiência sobre o caso foi realizada no último dia 2, mas não houve conciliação entre Yan Jamil Aby Hacan e a empresa telefônica.
A advogada Eliane Coelho Souza, que faz a defesa de Yan, pede indenização de R$ 80 mil. “Não teve nenhuma proposta de acordo com a Vivo. Este valor que pedimos fica a critério do juiz. É ele quem determina o que deve ser pago”, explicou ela.
Em nota, a assessoria de imprensa da Vivo informou que o caso ainda está sendo tratado no âmbito judicial, sem decisão final até o momento e que a “operadora está fazendo uma apuração mais detalhada sobre o tema a fim de investigar eventual problema interno que tenha ocorrido”.
A empresa também garantiu que “cumpre estritamente as normas legais do direito do consumidor e demais regulamentos da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) quanto à prestação regular de seus serviços de telefonia.”
Em seu despacho, o juiz André Souza Brito diz que a ré ( Vivo) afirma que os fatos “não merecem prosperar, tendo em vista a comprovação dos autos e ausência de respaldo jurídico”. http://odia.ig.com.br
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