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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Catucando a onça com vara curta

Carlos Chagas
Pelo cerimonial da sessão de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, cabe ao Brasil o discurso de abertura. O segundo orador é o representante dos Estados Unidos. De uns tempos para cá nossos presidentes da República, e os deles, tem se pronunciado quase rotineiramente. João Figueiredo inaugurou a temporada, depois José Sarney e os demais, com exceção de Itamar Franco. Dilma já foi uma vez e agora vai de novo, dada a importância da denúncia que deverá fazer, a respeito das ações de espionagem dos americanos junto a seus aliados. Viaja hoje à noite, preparando-se para a terça-feira.

Barack Obama falará em seguida. Pelo ritual da ONU, os oradores não se encontram. Ficam em salas separadas aguardando sua vez, com direito a dez ou quinze minutos de exposição antes de assumir a tribuna, sentados em incômodas e isoladas cadeiras, um patamar abaixo da bancada onde se assenta o presidente da sessão. Podem, quem discursou e quem vai discursar, no máximo cruzar-se no trajeto de ida e volta, cumprimentando-se. Encontrar-se depois é uma questão de agenda e de preferência, geralmente deixada de lado.

Como Dilma parece que será veemente em sua crítica, é provável que não troque sequer um “bom dia” com Obama, apesar de a diplomacia envolver surpresas e inusitados. Afinal, ela terá baixado tacape e borduna na política de espionagem do governo americano, esperando-se a devida e imediata réplica, ainda que muitos outros temas devam ser objeto da fala do gringo, como por exemplo a questão da Síria.

É óbvio que o atual inquilino da Casa Branca não gostou nem um pouco do adiamento da visita que nossa presidente faria a Washington em outubro. Engoliu a desfeita, certamente deixará para as calendas a fixação de datas posteriores. Como o Brasil ousou expor as entranhas de seu país, primeiro cancelando programação antes acertada e agora verberando ao vivo e a cores a invasão cibernética praticada sabe-se lá desde quando?

Devemos estar preparados para retaliações tanto no campo político quanto no econômico. Além dos prejuízos financeiros, cada gesto de má vontade adotado pelos Estados Unidos em seu relacionamento com o Brasil renderá para nosso governo dividendos internos e externos. Funcionará em favor da reeleição de Dilma, ano que vem, assim como reafirmará nossa liderança no continente sul-americano. Apesar disso, trata-se de um risco a correr, esse de catucar a onça com vara curta.

COMPENSAÇÃO DESPROPORCIONAL
Diante do impacto do prolongamento por mais um ano do julgamento dos mensaleiros agraciados com embargos infringentes, parece desproporcional a possibilidade não confirmada de alguns réus poderem tomar imediato rumo da cadeia. A iniciativa será desproporcional, mesmo se adotada proximamente contra os que não tem mais direito a recursos. As atenções gerais, melhor dizendo, o clamor das massas, voltam-se muito mais para os que acabam de receber uma espécie de carta de alforria válida até sabe-se lá quando do próximo ano. São eles, ex-dirigentes do PT, que concentram a frustração e até a indignação popular por terem chefiado a compra de votos parlamentares e, agora, se encontrarem acobertados pela possibilidade de redução de suas penas.

O novo Procurador Geral da República mostra-se cauteloso ao programar iniciativas, assim como o presidente Joaquim Barbosa. Cada dia que passa, no entanto, faz esmaecer a imagem da Justiça junto à opinião pública.

DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS
Quando os clubes de futebol vão mal nos campeonatos, como o brasileirão, os técnicos são os primeiros a sofrer. Quantos tem sido demitidos ainda longe do encerramento do certame? Infelizmente, o mesmo não se passa com relação aos partidos políticos. Apesar de sucessivas baixarias, seus presidentes permanecem impávidos no comando, mesmo quando se tornam diretamente responsáveis pelas lambanças. Essas diferenças fundamentais salvam o futebol, mas condenam a política.

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