Imagino que todo mundo faz ideia do que seja uma pirâmide financeira: na primeira rodada, uma pessoa (às vezes chamada de “piloto”) convence um grupo de outras (“passageiros”) a dar-lhe dinheiro; na rodada seguinte, com o “piloto” original fora, um dos passageiros originais assume o topo, novos membros são recrutados, e o procedimento se repete. A ideia é que, cedo ou tarde, todos os “passageiros” chegarão a “pilotos”, recuperando, com lucro, o dinheiro cedido inicialmente.
O problema, que não é muito difícil de ver, é que o jogo requer um fluxo infinito de novos participantes para se sustentar: supondo, por exemplo, que a pirâmide original tivesse seis passageiros, quando cada um deles chegar a “piloto”, outras 36 pessoas terão sido envolvidas. Para essas 36 lucrarem, será preciso atrair mais 216. Na nona rodada, seria preciso envolver mais de 10 milhões de novos passageiros, número maior que a população da maioria das cidades brasileiras. Cedo ou tarde, a estrutura desmorona, e muita gente fica a ver navios.
Pirâmides podem parecer tolices inócuas – exceto para os lesados –, algo como o golpe do bilhete premiado. Mas, quando escapam ao controle, produzem consequências desastrosas para a economia: em 1997, o governo da Albânia caiu e mais de 2.000 pessoas morreram em protestos violentos, tudo por causa do colapso de um gigantesco esquema de pirâmide.
Hoje em dia, pirâmides como a albanesa são ilegais em boa parte do mundo, mas não faltam “oportunidades de negócio” que seguem de perto o mesmo roteiro. As chamadas companhias de marketing multinível (MLM), em que distribuidores estabelecidos precisam recrutar novos distribuidores incessantemente, são um caso.
Embora essas empresas não sejam pirâmides no sentido estrito – afinal, ao mesmo tempo em que o dinheiro sobe da base ao topo, mercadorias descem do topo à base – o foco na ampliação contínua da rede de vendedores faz com que sofram do mesmo tipo de fragilidade: não só a população disponível para recrutamento é finita, como o mercado para o produto oferecido também é: o número de pessoas interessadas em comprar o detergente ou o shake emagrecedor da marca X uma hora acaba. E uma organização com mais vendedores do que consumidores é insustentável.
Um critério usado para distinguir uma empresa honesta de uma pirâmide disfarçada é o da fonte dos lucros: os vendedores ganham mais vendendo mercadorias para o público em geral ou para novos revendedores? Se for o segundo caso, melhor sair correndo. Ao contrário do que acontece nas pirâmides tradicionais, grandes MLMs dificilmente entram em colapso total: distribuidores desencantados apenas deixam a estrutura, sendo substituídos por novatos.
Em um livro pioneiro sobre o assunto, “False Profits”, de 1997, Robert Fitzpatrick e Joyce Reynolds chamam atenção para o principal dano, maior ainda que o prejuízo financeiro, trazido por atividades desse tipo: “A comercialização das relações pessoais, a manipulação das amizades e o abuso descarado da confiança da família” que começam quando o participante percebe que, para não perder o que investiu, precisa manter a corrente de distribuição crescendo. Custe o que custar, doa a quem doer. Via:Robson Pires
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