As manifestações de protesto ocorridas no Brasil em junho último encheram as ruas de numerosas cidades, prolongando-se ao longo do mês e adentrando julho.
Iniciadas após um moderado aumento das passagens de ônibus, metrôs e trens suburbanos, as primeiras manifestações foram convocadas para pedir o cancelamento desse aumento. Elas eram lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL), praticamente desconhecido da massa dos brasileiros, mas profundamente revolucionário, no pior sentido do termo. Gerado nas obscuras entranhas do Fórum Social de Porto Alegre em 2005, o MPL é um movimento anárquico cujo objetivo é a implantação de uma sociedade autogestionária e ecológica que vá além do comunismo.
Alguns grupos de militantes – qualificados por uns como infiltrados e por outros como fazendo parte dos planos iniciais para criar baderna, tornando os protestos mais incisivos – promoveram saques, destruições, roubos e vandalismos de todo gênero.
A surpresa veio quando o movimento de protesto tomou características insuspeitadas. Primeiramente quanto ao número de participantes, acima de toda expectativa, e sua perseverança dias a fio; depois, quanto ao tipo de manifestantes, provenientes em grande número da classe média; por fim, quanto à pluralidade das reivindicações, muitas delas de caráter antes conservador que “progressista”.
Na elaboração da miragem segundo a qual as manifestações visariam sobretudo ações em favor da esquerda, a presidente Dilma passou a receber militantes dos movimentos impropriamente chamados “sociais” (muitos deles, na verdade, anti-sociais), como se tais agremiações representassem a multidão que saiu às ruas!
Os manifestantes de junho, jovens em sua maioria, um bom número de católicos, não se sentiam representados por nenhum partido político, sindicato de classe ou ONG de qualquer espécie. Muito menos pela imprensa ou pela CNBB.
É interessante notar que esse divórcio entre a população brasileira que saiu às ruas e os políticos foi previsto já em 1987 pelo renomado líder católico de feliz memória, Plinio Corrêa de Oliveira, ao analisar os rumos que então vinha tomando o Brasil: “O divórcio entre o País legal e o País real será inevitável. Criar-se-á então uma daquelas situações históricas dramáticas, nas quais a massa da Nação sai de dentro do Estado, e o Estado vive (se é que para ele isto é viver) vazio de conteúdo autenticamente nacional” (ver revista Catolicismo, agosto/2013).
Se quisermos apontar um denominador comum para o que ocorreu nesses ainda recentes dias, poderíamos dizer que foi a manifestação de um grande, de um imenso Descontentamento em relação aos últimos governos, que estão conduzindo o Brasil para um tipo de esquerdismo chavista que desagrada profundamente à população. Daí o divórcio entre o país real e o país legal.
(*) Gregório Vivanco Lopes é advogado e colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM)
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