Do G1 PA
Moradores de Melgaço, no Marajó, dependem da ajuda dos governos federal, estadual e municipal para manter sua renda e garantir direitos. (Foto: Eunice Pinto/ Ag. Pará )
Metade dos moradores de
Melgaço, no Pará, não sabe ler nem escrever. Segundo dados do censo do IBGE publicado em 2012, 12 mil dos 24 mil habitantes da cidade não são alfabetizados, e apenas 681 pessoas frequentam o ensino médio.
São dados como este que exemplificam o que foi apontado no levantamento feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que divulgou nesta segunda-feira (29) o "Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013". De acordo com a publicação, a cidade do Marajó tem o
pior Desenvolvimento Humano do país.
O professor, que atuou como secretário de educação no período, conta que a cidade investiu na capacitação docente, mas hoje ainda faltam políticas para atrair e manter jovens e adultos na escola. "O município não consegue montar Ensino de Jovens e Adultos. As pessoas são pobres e precisam trabalhar. O muncípio carece de programas para sucesso escolar", avalia.O professor do doutorado de Antropologia da Universidade Federal do Pará, Agenor Sarraf, nasceu em Melgaço e dedica sua pesquisa à cidade. Segundo ele, grande parte dos analfabetos são pessoas com mais de 15 anos, que não conseguiram estudar durante uma crise da educação ocorrida na década passada. "O número de professores leigos era muito grande: 75% dos professores não tinham magistério em 2001", disse.
O G1 tenta contato com o prefeito de Melgaço, mas ainda não foi atendido.
Em nota, a Secretaria de Educação do Estado (Seduc), responsável pelo Ensino Médio, informou que uma nova escola de ensino médio deve ser começar a ser construída na cidade ainda em 2013, e que a Escola Estadual Tancredo de Almeida Neves irá integrar o programa Jovem de Futuro a partir de 2014. O projeto visa melhorar a qualidade do ensino através de novas metodologias pedagógicas.
A Seduc informa ainda que a cidade de Melgaço também aderiu ao Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), coordenado pela Rede Estadual de Ensino, executado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) junto ao município, com a principal meta é de ter todas as crianças alfabetizadas até os 8 anos de idade.
Pobreza
Além da educação, a população de Melgaço também sofre com a pobreza: de acordo com o Mapa da Pobreza do IBGE publicado em 2003, 48% das pessoas do município são pobres, grande parte da população do campo tem remuneração de R$ 71,50, fazendo com que as famílias na zona rural sobrevivam, em média, com R$ 662 por mês - menos que um salário mínimo.
Na área urbana a situação é um pouco melhor: cada família recebe, em média, R$ 1.493. Mas, segundo o Departameto Intersindical de Estudos Socioeconômicos (DIEESE), este valor é inferior ao necessário para atender as necessidades básicas da população. "O salário mínimo, para atender ao que determina a constituição, deveria ser de R$ 2.860,21. Com esse valor, o trabalhador conseguiria pagar alimentação, saúde, educação e lazer para a sua família", disse o economista Roberto Sena.
"O rendimento da população de Melgaço coloca essas pessoas abaixo da linha da miséria. Não dá para fazer nada com este dinheiro. A cesta básica para um trabalhador no Pará, segundo nossa última pesquisa, foi de R$ 280", pondera o economista.
Segundo Agenor Sarraf, existem poucas oportunidades de emprego na cidade. "De fato o município é muito pobre. 80% da população vive na zona rural, não há indústria. A cidade não tem empresas desde a decadência da madeira e do palmito na região. As fontes de renda na cidade são a prefeitura, aposentadorias e programas sociais", revela o professor.
Segundo o Dieese, a situação de Melgaço ilustra a desigualdade no estado do Pará, que tem o 13º maior PIB do país, mas apresenta a 23ª renda. "É uma concentração de renda brutal: poucos têm quase tudo, e muitos têm quase nada. Ter o povo participando da renda é o grande desafio: o estado é rico, mas o povo tem situações de vida muito difícies, como é o caso de Melgaço", critica Roberto Sena.
Saúde
Segundo o professor Sarraf, faltam médicos, enfermeiros e remédios para atender a população de Melgaço. "A extensão territorial é grande. Se leva até 15 dias para cruzar o espaço, são mais de 6 mil quilômetros. A densidade demográfica é baixa, existem postos de saúde em vilas, mas a população se espalha pelos rios e isso dificulta as políticas de saúde".
Entenda o IDH
O IDH mede o nível de desenvolvimento humano de determinada região. É a terceira vez que o órgão da ONU realiza o levantamento sobre a situação nos municípios do país – outras duas edições da pesquisa foram divulgadas em 1998 e 2003.
No atlas de 2013, o IDH foi calculado com base nos dados do censo demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No atlas de 2003, as informações são as do censo de 2000, e, para 1998, a base de dados foi a de 1991. No entanto, neste ano, o Pnud mudou os critérios de aferição do índice, e atualizou os dados dessas duas pesquisas anteriores com base nesses novos critérios (leia
aqui sobre a nova metodologia).
O IDH dos municípios vai de 0 a 1: quanto mais próximo de zero, pior o desenvolvimento humano; quanto mais próximo de um, melhor - em Melgaço, o IDH é 0,418, o mais baixo das 5565 cidades pesquisadas. O índice considera indicadores de longevidade (saúde), renda e educação.