A repercussão da morte de Steve Jobs e as merecidas homenagens a ele prestadas, inclusive e principalmente aqui no Brasil, são dignas de registro, pois mostram talvez uma mudança profunda na opinião pública, historicamente avessa ao capitalismo em geral e aos capitalistas em particular. Devido a uma persistente cultura de privilégios e do intenso compadrio entre agentes públicos e privados, vigente por aqui desde priscas eras, a imagem dos empresários sempre foi a pior possível, não raro considerados ladrões, sonegadores ou exploradores do trabalho alheio.
O egoísmo é outra pecha frequentemente lançada contra os empreendedores para desmerecer seu trabalho e as realizações. Os detratores anticapitalistas esquecem que quase todos nós trabalhamos somente em proveito próprio. A única diferença é que a compensação pelo trabalho, seja ele de um humilde servente ou de um renomado cientista, é o salário, enquanto a dos empresários é o lucro. Aliás, há outra importante diferença: o risco. Os assalariados recebem pelo trabalho executado independentemente do resultado alcançado, mas os capitalistas serão recompensados apenas caso os seus investimentos e esforços se tornem lucrativos.
No verdadeiro capitalismo - onde a eficiência é recompensada, a ineficiência é punida e os favores do Estado estão fora do alcance -, a luta pela sobrevivência é tão dura que o bom empresário não pode se dar ao luxo de olhar o interesse social, mas unicamente os seus próprios interesses, sob pena de sucumbir ante a concorrência alheia ou a ineficiência própria. Contudo, foi justamente este famigerado "egoísmo" o responsável pela criação de produtos e serviços que transformaram o mundo num lugar muito melhor para viver.
Por mais que possa parecer estranho, foi graças à ambição de homens como Steve Jobs que a imensa maioria dos nossos contemporâneos goza hoje de um padrão de vida bem acima do que, há apenas poucas gerações, era impossível até aos mais abastados. Ou alguém duvida que o autointeresse dos capitalistas está por trás de quase todas as inovações tecnológicas que, de alguma forma, concorreram para satisfazer boa parte das carências humanas?
Convido-o a pensar algumas das maravilhas já criadas pelo engenho humano. Pense nos automóveis, locomotivas, navios e aviões, que possibilitam deslocamentos cada vez mais rápidos e seguros. Pense nos eletroeletrônicos que facilitam a vida e entretêm bilhões de indivíduos: geladeiras, televisores, máquinas de lavar, micro-ondas, condicionadores de ar, computadores, telefones celulares. Pense nos equipamentos que ajudam a tornar a medicina muito mais eficiente e prática, como tomógrafos, centrífugas, aparelhos de ultrassonografia, de ressonância magnética, microscópios eletrônicos, microchips, marca-passos. Pense na indústria farmacêutica, seus avanços e descobertas. Pense, por exemplo, que, há poucos anos, a maior parte dos doentes com úlcera gástrica terminava numa mesa de operações e hoje aquela é uma doença facilmente tratável com medicamentos. Pense na agricultura e nos avanços de produtividade que permitem alimentar um contingente humano que cresceu de forma geométrica, contradizendo as previsões catastróficas de Thomas Malthus e seus seguidores.
Esses avanços, e toda a fantástica geração de riquezas conseguida pelo homem, foram obtidos graças à divisão e à especialização do trabalho e, acima de tudo, ao interesse pessoal dos indivíduos, principalmente dos execrados capitalistas. Sem isso, talvez a maior parte da população ainda estivesse labutando de sol a sol, morando sem qualquer conforto e sujeita a condições extremas de insalubridade. Sem falar do cotidiano monótono, restrito a atividades básicas de sobrevivência.
Sem a recompensa pessoal, seja ela fruto da remuneração do trabalho ou do capital (lucro), não há incentivo para que os indivíduos produzam, invistam, pesquisem, desenvolvam novas tecnologias, criem e coloquem novos produtos e serviços à disposição dos demais. Analisem a relação de ganhadores do Prêmio Nobel nas áreas de ciência e tecnologia. Onde está (ou esteve) domiciliada a imensa maioria deles? Sem dúvida, em países onde há liberdade econômica (capitalismo) e, consequentemente, a busca pelo lucro. Será que isso acontece por acaso? Por João Luiz Mauad, O GLOBO