Na semana passada, o presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que, “por sua história”, o ministro Fernando Pimentel “está acima de qualquer suspeita”.
Há uns 15 dias, o notório governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, disse que “a palavra do governador vale como prova”.
Ontem, foi a vez de Dilma Rousseff inovar o bestialógico político ao se referir a Pimentel: “O governo só acha o seguinte: é estranho que o ministro preste satisfações ao Congresso da vida privada, da vida pessoal passada dele. Se ele achar que deve ir, ele pode ir. Se ele achar que não deve ir, ele não vai”. E emendou que ele tem de prestar satisfações sobre assuntos de governo apenas.
A presidente acaba de inovar o conceito de moralidade pública. Quando um sujeito põe os pés num ministério, larga para trás o seu passado. Já seria uma consideração bastante exótica ainda que Pimentel fosse consultor, sei lá, de uma rede de padarias. Mas não! É evidente que, a exemplo de Antonio Palocci, pôs a sua condição de homem público a serviço de interesses privados, com o agravante de que um de seus clientes tinha negócios com a Prefeitura de Belo Horizonte, onde ele mantém uma óbvia rede de influência. Seu sócio na “consultoria”, diga-se, exercia lá cargo de confiança. Demitiu-se depois que o escândalo veio à tona.
Dilma se esforça para dar a impressão de que a consultoria de Pimentel é aquilo que não é: mera relação entre entes privados, que não guarda qualquer relação com o dinheiro público — que segue sendo público, note-se, ainda que seja municipal. O conceito de moralidade, que deve pautar um ministro de estado, parece ser um pouco mais rigoroso do que esse esboçado pela Soberana.
A presidente pode aproveitar a reforma ministerial que deve fazer no começo do ano para nomear para o ministério da deputada Jaqueline Roriz. Afinal, a acusação que pesava contra ela era anterior à sua eleição. Pode-se dizer que se tratava de algo relacionado à sua sua “vida privada”. Foi a sua absolvição, diga-se, que levou o Conselho de Ética a mudar de prática: agora, eventos acontecidos até cinco anos da eleição podem, sim, resultar em cassação de mandato. Dilma deve achar excesso de rigor.
A manutenção de Pimentel como um dos coordenadores da campanha eleitoral e a sua posterior nomeação para o ministério já foram decisões um tanto acintosas de Dilma Rousseff. Afinal, era ele o chefe da tal equipe de “pré-campanha”, coordenada por Luiz Lanzetta, que foi flagrada tentando montar um dossiê contra José Serra. E quem estava naquele grupo? Justamente o ex-jornalista que agora virou herói dos petralhas com o seu explícito analfabetismo moral — entre outros analfabetismos. Chega a ser constrangedor. Não é mesmo melancolicamente engraçado que Pimentel, o “consultor”, esteja na pré-história do tal livro delirante, que incendeia a libido dos petralhas?
A excitação se explica! Eles estão tentando se explicar há pelo menos seis ministros, não é mesmo? E poderiam ser oito. O governo do Distrito Federal, por sua vez, já se tornou, literalmente, um caso de polícia. Estavam precisando de algo que os reunisse. Por que não, então, recorrer à lama, a exemplo do que fizeram com a falsa lista de Furnas, tentando incriminar inocentes?
Dinheiro público
Há uma dimensão nessa história toda que precisa ser explicitada. A rede criminosa organizada para caluniar, difamar, injuriar, levantar falsas evidências, mentir É FINANCIADA COM DINHEIRO PÚBLICO. Há dias, numa cerimônia sobre direitos humanos, Dilma fez juras de amor à imprensa livre — e é bom que assim seja porque, de fato, a Constituição não lhe permite criar qualquer embaraço ao trânsito das informações.
Mas é preciso que se fique atento: o subjornalismo financiado pelo governo federal, por alguns governos estaduais e por estatais constitui uma ameaça a direitos fundamentais. Afinal, recursos públicos são mobilizados para que uma súcia de delinqüentes — todos expulsos das grande empresas de comunicação em razão dos métodos que empregavam — ataque os “inimigos do regime”. Promovessem, vá lá, o debate de idéias, o confronto ideológico, já não seria nada recomendável, mas talvez fosse tolerável. O que se tem é outra coisa: trata-se de uma gangue organizada pelo aparelho de estado para atacar os inimigos “do partido”. Só Stálin fez melhor…
Reitero: poucas coisas na República brasileira foram tão viradas e reviradas como as privatizações, inclusive pela arapongagem petista. Se algo tivesse havido de irregular, o PT teria botado a boca no trombone. Lula passou oito anos desconstruindo a imagem de FHC na base do puro proselitismo. Lembro-me que os petistas, na oposição, chegaram a propor uma CPI para investigar 45 (!) casos de corrupção. Durante as campanhas eleitorais, os tais 45 sempre voltam à tona e são mantidos em sites da canalha petralha. Pensem um pouco: por que, então, no poder, esses homens ilibados não deram um jeito de punir os responsáveis?
Modus operandi
Eis aí. Estamos diante de um modus operandi. “A máquina” está em ação. De um lado da peleja, os inimputáveis, os acima de qualquer suspeita, os que só dão explicações se quiserem; do outro, as vítimas dessa máquina, alimentada, reitero, com dinheiro público. *Por Reinaldo Azevedo