Atentado à bomba cometido pela esquerda armada em Recife, 25/07/1966: a "comissão da verdade" irá investigar esse caso?
No último dia 18, Dilma Vana Rousseff assinou, com grande estardalhaço, duas leis. A primeira, dizem os jornais, chama-se "de acesso à informação", e tem por objetivo (uso as palavras da imprensa), permitir o acesso da população a arquivos sigilosos do governo, em nome da transparência. A segunda cria uma autodenominada Comissão da Verdade (assim, com maiúsculas). Sua missão declarada é investigar crimes de natureza política e violações de direitos humanos ocorridos no Brasil no período de 1946 a 1988. Tudo em nome da verdade e da justiça etc.
Que beleza, não?
Já deixei claro, em outros textos, o que acho da idéia de se criar uma comissão para apurar crimes políticos do passado: sou total e radicalmente a favor. Apenas com uma diferença dos que estão no governo: quero que toda a verdade - toda ela, e não a metade que convém mostrar - sobre esse e outros períodos da História do Brasil venha à tona. Desejo sinceramente que todos os crimes, todos os assassinatos, os casos de tortura, os sequestros, enfim, tudo - sejam revelados ao público, com todos os seus mórbidos detalhes. Sou mesmo pornográfico quando se trata desse assunto: que se mostre tudo, não se esconda nada.
Dessa vez os donos da verdade, da moral e da ética resolveram expandir o período de investigação, chegando até 1946. OK, acho que se deve investigar esse período também. Gostaria, aliás, que se retrocedesse até antes dessa data. Por que não investigar, por exemplo, a ditadura do Estado Novo varguista (1937-1945), perto da qual a ditadura militar, em matéria de tortura, foi até boazinha? Será que é porque Getúlio Vargas, o ditador de então, é um ícone da esquerda tupiniquim, sendo até hoje venerado como pai dos pobres por parte dela? Mas, peraí, a tal comissão não vai ser suprapartidária, acima das ideologias etc. e tal?...
Mas deixa pra lá. O importante é que vamos ter uma comissão, formada por sete pessoas escolhidas pela ex-camarada Stela "que tenham conduta ética e atuação relevante na defesa dos direitos humanos" etc. etc. Aí vai, portanto, uma sugestão de caso a ser investigado por essas pessoas, minha modesta contribuição ao esclarecimento da verdade sobre a História recente do Brasil.
Eis o fato, narrado por um de seus protagonistas (coloquei a parte mais chocante em negrito):
Algo também marcante aconteceu com um sujeito encarregado de zelar pela gráfica do Partido, em Belo Horizonte. O fulano, comprovadamente, não apenas entregou à polícia nossas instalações, como delatou companheiros, que acabaram presos em conseqüência disso. Aparentemente, o homem queria estabelecer-se como uma espécie de espião, dentro do PCB. Nem desconfiava que já sabíamos de sua traição. Convocado para uma reunião, foi levado a um aparelho. Lá chegando, foi sumariamente executado. Seu corpo foi derretido com ácido muriático numa banheira e os restos, despejados na latrina."
Então, que acharam?
Revoltante, não?
Querem saber de onde tirei o parágrafo acima? Do livro Memórias de um Stalinista (Editora Ópera Nostra, 1994), do dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) Hércules Corrêa (falecido em 2008). Está lá, para quem quiser ver, na página 73 do livro. O trecho relata o assassinato ("justiçamento", no linguajar esquerdista) de um membro do partido pelos próprios companheiros. Um crime brutal, com requintes de frieza e barbárie (desnecessário dizer, mas a vítima é, desde então, um desaparecido político). O fato ocorreu provavelmente nos anos 40 ou 50 (infelizmente, Corrêa não precisa a data, nem nomeia a vítima, o que torna ainda mais absurdo o crime). Dentro da época, portanto, coberta pela "comissão". A pergunta é: ela vai investigar esse caso também?
Aí está, senhores membros da "comissão da verdade"! Eis uma oportunidade para provarem que estão mesmo interessados em trazer à tona os casos de crimes políticos e violações de direitos humanos no Brasil nos últimos sessenta e tantos anos. É a sua chance de mostrar que são mesmo imparciais, e que só querem que a verdade seja revelada, independentemente de filiações partidárias e de conveniências políticas. Agora é com os senhores.
Tenho certeza de que, honestos e comprometidos com os direitos humanos como são, os membros da comissão recém-criada irão tratar o caso narrado acima com a mesma atenção e com o mesmo interesse com que tratarão os casos de guerrilheiros mortos durante o regime militar. Assim como diversos outros casos semelhantes de "justiçamentos" cometidos pela esquerda, antes e depois de 1964. Não será por falta de exemplos, certamente.
Desconfio, porém, que o trabalho da comissão vai ficar pela metade. Afinal, a presidenta (aliás, por que "presidenta"? por acaso existe "gerenta"?) da transparência e da verdade é a mesma que há mais de um ano impede na Justiça que um pesquisador do Rio de Janeiro tenha acesso a seu prontuário do DOPS, que poderia revelar o que ela fez exatamente como militante de várias organizações armadas de extrema-esquerda nos anos 60 (deve ser o único caso no mundo de alguém que se diz orgulhosa do próprio passado e que, ao mesmo tempo, se esforça em escondê-lo...). Também é a mesma democrata que, em nome do repúdio a ditaduras passadas, endossa e aplaude ditaduras presentes.
Ah, sim! Também acho um absurdo a tal comissão não ter poder para punir os responsáveis pelos crimes que irá investigar. Para mim, lugar de torturador é mesmo a cadeia. Nem precisa dizer, mas o mesmo vale para terroristas - e para quem dissolve seres humanos em banheiras com ácido. Se é, portanto, para revogar a Lei de Anistia de 1979, que seja para punir os dois lados (a foto acima mostra por quê).
Enfim, vejamos se as duas novas leis criadas pelo governo da gerentona bravinha vão ajudar a esclarecer o fato narrado aí em cima. Algo me diz que não, e que a coisa toda não passa de mais um fogo de artifício criado pelos petralhas para fazer proselitismo vagabundo e enganar os trouxas. Mas sempre resta uma esperança.