por Fernando Duarte
Resquícios de um Brasil interrompido | Foto: Fernando Duarte/ Bahia Notícias
Não espere do brasileiro politizado, ainda que mediocremente politizado, um quê de otimismo nesta quarta-feira (25). Em mais um episódio de descompasso com a opinião pública, a Câmara dos Deputados deve arquivar mais um pedido de autorização para que o presidente da República, Michel Temer (PMDB), possa ser investigado por crimes comuns. Temer, que já foi salvo em agosto em uma primeira denúncia, mais uma vez abriu os cofres públicos para, legalmente, conceder benefícios aos aliados que devem conceder mais um salvo-conduto para permanecer no Palácio do Planalto, mesmo após duas investidas da Procuradoria-Geral da República para investigá-lo e com pífios 3% de aprovação nas pesquisas de opinião. Para a nossa sorte – se é que se pode falar em sorte -, não haverá surpresas na votação. A oposição, que paga de moralmente correta, finge querer a cabeça de Temer ao mesmo tempo em que prefere que o peemedebista sangre no poder para que a tática da terra arrasada surta mais efeito nas urnas em 2018. A base aliada, sem qualquer pudor, vai dizer que o presidente precisa ficar, pois o Brasil não suporta uma nova troca de comando – como se a primeira tivesse sido realmente necessária. Temer é um morto-vivo que abre as veias brasileiras para que os companheiros de jornada aproveitem dos recursos públicos sem embaraços. Legalmente falando, a liberação de emendas ou a troca de cargos por votos pode não ser crime. Moralmente, todavia, é mais do que condenável. Nada que impeça que os deputados federais coloquem a cara para bater, já que a memória curta do eleitor provavelmente vai levar boa parte dos mesmos rostos para a Câmara no próximo ano. O escárnio que se tornou o Congresso Nacional coloca no mesmo rol quaisquer políticos que exercem mandato. É uma consequência das ações de cada um deles e da massa uniforme em que se transformam os parlamentares quando estão a defender os próprios interesses. Para ampliar ainda mais a decepção com a política brasileira, além de Temer e seus dois ministros, Eliseu Padilha e Moreira Franco, serem temporariamente inocentados de formar uma quadrilha para usurpar recursos públicos, o Conselho de Ética do Senado arquivou, amparado em um parecer, o pedido de cassação contra Aécio Neves. Nenhum senador pode ter um pedido de cassação pela mesma razão em um mesmo mandato. Se tivesse sido apurada no primeiro pedido, talvez fôssemos poupados de mais uma tristeza de ver uma denúncia ser considerada em vão apenas pela ação de confrades. Como defendeu o juiz Sérgio Moro ontem, considerado herói e vilão pelas ações da Lava Jato, durante uma conferência em São Paulo, é preciso saber o que acontecerá depois da operação. Eis o consolo: é mais nobre acreditar que o dia seguinte já é mais importante do que hoje. Este texto integra o comentário desta quarta-feira (25) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM e Clube FM.
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