Blog do Jorge Nicola - Yahoo Esportes•
O futebol transformou a vida de Luizão. O menino pobre que cresceu em Rubineia, no interior de São Paulo, hoje tem 40 anos, é rico, famoso… Mas o ex-artilheiro de Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos e seleção brasileira tem algo a lamentar do mundo da bola: o preconceito contra aqueles que deixaram de ser atletas. “Ninguém sabe mais de futebol do que o ex-jogador, mas os clubes ignoram seus antigos ídolos”, diz Luizão, que atua como agente desde 2010, quando fechou a ida de Deco do Chelsea para o Fluminense.
“Existe um preconceito muito grande contra ex-atletas. É uma barreira”, avalia o goleador, ressaltando que poucos ídolos são recrutados como treinadores ou dirigentes dos times onde fizeram história.
Nesta entrevista exclusiva, Luizão também falou de dois arrependimentos na carreira, admitiu a ideia de mudar de profissão, explicou por que não surgem mais centroavantes e cornetou os técnicos…
BLOG_ Dizem que o jogador de futebol morre duas vezes, a primeira delas quando se aposenta. Como foi para você pendurar as chuteiras?
LUIZÃO_ Foi muito duro. Saí de casa com 14 anos para tentar o sonho de virar jogador. Antes disso, já levantava supercedo, para trabalhar. Aí, com 31 anos, fui obrigado a parar de jogar por causa de um problema no pé. Eu não tinha me preparado para aquilo tão cedo.
Como ficou seu dia a dia?
Eu não tinha estudado, então, não sabia o que fazer. Também não queria ser treinador, para ter a chance de ficar com meus filhos. Fiquei depressivo. Não queria mais sair de casa. Para se ter uma ideia, meu lado da cama ficou mais baixo, porque eu passava o dia inteiro vendo filme. Não tinha vontade.
E o que fez para sair dessa?
O futebol me ajudou, porque passei a trabalhar como empresário. Eu era vizinho do Deco em Maresias, nos conhecíamos desde a época da base no Guarani. Aí, ele falou que eu conhecia muita gente e pediu para ajudá-lo a arrumar um clube no Brasil. Pedi uma carta de autorização para o Fluminense, porque sabia que nenhum outro time conseguiria pagar seu salário. Deu certo e abrimos nossa empresa.
Quais outros negócios grandes você fez?
Levei o Miranda e o Elias para o Atlético de Madrid, o Fabinho para o Rio Ave, o Danilo para o Braga… Teve alguns negócios para o Brasil, como o Diego Cavalieri, o Carlinhos, o Luiz, goleiro que foi para o Criciúma.
Quem são seus clientes?
Tenho alguns jogadores no exterior, como o Miranda. Aqui no Brasil, cuido mais da carreira do João Schmidt, do Carlinhos, do Pedro e do Murilo, dois atacantes muito bons da base do São Paulo…
A vida de empresário é boa?
Às vezes. eu gosto, às vezes. dá vontade de fazer outras coisas. Quero ter uma rotina. Por exemplo, ser auxiliar-técnico, diretor… Também penso em trabalhar como comentarista de TV. Sempre fui um cara de fazer amigos, de ter um bom convívio. Sinto falta.
Por que decidiu voltar a jogar em 2009, pelo Guará?
Blindo meus carros com um amigo, que estava cuidando do Guaratinguetá. Ele fez o convite e, como eu já estava parado havia quase dois anos, resolvi aceitar. Só que, no treino para o segundo jogo, estourei o tornozelo esquerdo. Aí, parei de vez.
Joelho, tornozelo… quantas cirurgias você fez?
Dez. Teve ligamento cruzado dos dois joelhos, cartilagem do joelho direito, diversas artroscopias, cirurgia no pé, hérnia inguinal…
Depois de sete anos aposentado, ainda dói alguma coisa?
Não consigo mais jogar futebol. De jeito nenhum, senão, no dia seguinte, não saio da cama. Só dá para brincar no futevôlei e fazer transport, para manter a forma e ocupar a cabeça.
Seu filho é muito elogiado no sub-13 do Palmeiras. Você é daqueles pais intrometidos ou não se mete muito?
Eu nunca me intrometi em nada. Não grito, não peço para o técnico escalá-lo… Ele tem de jogar por merecimento. Para falar a verdade, nunca o forcei sequer a jogar. Ele gosta muito.
E fora dos campos, como você é com o Rocco e a Yasmim?
Eu me considero um baita pai e procuro fazer tudo por eles. Levo e busco na escola, faço comida, brinco com os amigos quando eles estão por aqui… Coisas que eu nunca conseguia fazer na época de jogador.
Como se sai na cozinha?
Meus filhos dizem que o arroz que eu faço é melhor do que o da empregada que trabalha na casa da mãe deles. E faço tudo: feijão, peixe, frango, bife… é uma coisa que eu gosto.
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