Demorou alguns séculos para que a Igreja Católica chegasse à forma final da
Bíblia, com os 72 livros como temos hoje. Em vários Concílios, ao longo da
história, a Igreja assistida pelo Espírito Santo, estudou e definiu o Índice da
Bíblia; uma vez que nenhum de seus livros traz o seu Índice. Foi a Igreja
Católica quem berçou a Bíblia. Garante-nos o Catecismo da Igreja e o Concílio
Vaticano II que: “Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que
escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados”. Portanto, sem a
Tradição da Igreja não teríamos a Bíblia. Santo Agostinho dizia: “Eu não
acreditaria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja
Católica”.
Por que a Bíblia católica é diferente da protestante? Esta tem apenas 66
livros porque Lutero e, principalmente os seus seguidores, rejeitaram os livros
de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (ou Sirácida), 1 e 2 Macabeus,
além de Ester 10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14. A razão disso vem de longe.
No ano 100 da era cristã, os rabinos judeus se reuniram no Sínodo de Jâmnia,
no sul da Palestina, a fim de definir a Bíblia Judaica. Isto porque nesta época
começavam a surgir o Novo Testamento com os Evangelhos e as cartas dos
Apóstolos, que os judeus não aceitaram. Nesse Sínodo, os rabinos definiram como
critérios para aceitar que um livro fizesse parte da Bíblia, o seguinte: (1)
Deveria ter sido escrito na Terra Santa; (2) Escrito somente em hebraico, nem
aramaico e nem grego; (3) Escrito antes de Esdras (455-428 a.C.); (4) Sem
contradição com a Torá ou lei de Moisés. Esses critérios eram puramente
nacionalistas, mais do que religiosos, fruto do retorno do exílio da Babilônia
em 537aC.
Por esses critérios não foram aceitos na Bíblia judaica da Palestina os
livros que hoje não constam na Bíblia protestante, citados anteriomente. Mas a
Igreja católica, desde os Apóstolos, usou a Bíblia completa. Em Alexandria no
Egito, cerca de 200 anos antes de Cristo, já havia uma influente colônia de
judeus, vivendo em terra estrangeira e falando o grego. O rei do Egito,
Ptolomeu, queria ter todos os livros conhecidos na famosa biblioteca de
Alexandria; então mandou buscar 70 sábios judeus, rabinos, para traduzirem os
Livros Sagrados hebraicos para o grego, entre os anos 250 e 100 a.C, antes do
Sínodo de Jâmnia (100 d.C). Surgiu, assim, a versão grega chamada Alexandrina ou
dos Setenta, que a Igreja Católica sempre seguiu. Essa versão dos Setenta,
incluiu os livros que os judeus de Jâmnia, por critérios nacionalistas,
rejeitaram. Havia, dessa forma, no início do Cristianismo, duas Bíblias
judaicas: a da Palestina (restrita) e a Alexandrina (completa – Versão dos
LXX).
Os Apóstolos e Evangelistas optaram pela Bíblia completa dos Setenta
(Alexandrina), considerando inspirados (canônicos) os livros rejeitados em
Jâmnia. Ao escreverem o Novo Testamento, utilizaram o Antigo Testamento, na
forma da tradução grega de Alexandria, mesmo quando esta era diferente do texto
hebraico. O texto grego “dos Setenta” tornou-se comum entre os cristãos; e,
portanto, o cânon completo, incluindo os sete livros e os fragmentos de Ester e
Daniel, passaram para o uso dos cristãos. Das 350 citações do Antigo Testamento
que há no Novo, 300 são tiradas da Versão dos Setenta, o que mostra o uso da
Bíblia completa pelos Apóstolos. Verificamos também que nos livros do Novo
Testamento há citações dos livros que os judeus nacionalistas da Palestina
rejeitaram.
Nos séculos II a IV, houve dúvidas na Igreja sobre os sete livros por causa
da dificuldade do diálogo com os judeus. Mas a Igreja ficou com a Bíblia
completa da Versão dos Setenta, incluindo os sete livros. Após a Reforma
Protestante, Lutero e seus seguidores rejeitaram os sete livros já citados. É
importante saber também que muitos outros livros, que todos os cristãos têm como
canônicos, não são citados nem mesmo implicitamente no Novo Testamento. Por
exemplo: Eclesiastes, Ester, Cântico dos Cânticos, Esdras, Neemias, Abdias,
Naum, Rute.
Outro fato importantíssimo é que nos mais antigos escritos dos santos Padres
da Igreja os livros rejeitados pelos protestantes são citados como Sagrada
Escritura. Assim, São Clemente de Roma, o quarto Papa da Igreja, no ano de 95
escreveu a Carta aos Coríntios, citando Judite, Sabedoria, fragmentos de Daniel,
Tobias e Eclesiástico; livros rejeitados pelos protestantes. Ora, será que o
Papa S. Clemente se enganou, e com ele a Igreja? É claro que não. Da mesma
forma, o conhecido Pastor de Hermas, no ano 140, faz amplo uso de Eclesiástico,
e de Macabeus II; Santo Hipólito (†234), comenta o Livro de Daniel com os
fragmentos deutero-canônicos rejeitados pelos protestantes, e cita como Sagrada
Escritura Sabedoria, Baruc, Tobias, 1 e 2 Macabeus. Fica assim, muito claro, que
a Sagrada Tradição da Igreja e o Sagrado Magistério sempre confirmaram os livros
deutero-canônicos como inspirados pelo Espírito Santo. Vários Concílios
confirmaram isto: os Concílios regionais de Hipona (ano 393); Cartago II (397),
Cartago IV (419), Trulos (692). Principalmente os Concílios ecumênicos de
Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870) confirmaram a escolha.
No século XVI, Martinho Lutero (1483-1546) para contestar a Igreja, e para
facilitar a defesa das suas teses, adotou o cânon da Palestina e deixou de lado
os sete livros conhecidos, com os fragmentos de Esdras e Daniel. Lutero, quando
estava preso em Wittenberg, ao traduzir a Bíblia do latim para o alemão,
traduziu também os sete livros (deutero-canônicos) na sua edição de 1534, e as
Sociedades Bíblicas protestantes, até o século XIX incluíam os sete livros nas
edições da Bíblia. Neste fato fundamental para a vida da Igreja (a Bíblia
completa) vemos a importância da Tradição da Igreja, que nos legou a Bíblia como
a temos hoje. Disse o último Concílio: “Pela Tradição torna-se conhecido à
Igreja o Cânon completo dos livros sagrados e as próprias Sagradas Escrituras
são nelas cada vez mais profundamente compreendidas e se fazem sem cessar,
atuantes”.(DV,8).
Se negarmos o valor indispensável da Igreja Católica e de sua Sagrada
Tradição, negaremos a autenticidade da própria Bíblia. Note que os seguidores de
Lutero não acrescentaram nenhum livro na Bíblia, o que mostra que aceitaram o
discernimento da Igreja Católica desde o primeiro século ao definir o Índice da
Bíblia. É interessante notar que o Papa São Dâmaso (366-384), no século IV,
pediu a S.Jerônimo que fizesse uma revisão das muitas traduções latinas que
havia da Bíblia, o que gerava certas confusões entre os cristãos. São Jerônimo
revisou o texto grego do Novo Testamento e traduziu do hebraico o Antigo
Testamento, dando origem ao texto latino chamado de Vulgata, usado até hoje. Fonte: Canção Nova / Prof. Felipe Aquino
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