A Justiça determinou a prisão temporária – por 30 dias – de três médicos e de uma enfermeira do Hospital Evangélico, de Curitiba, acusados de envolvimento em mortes de pacientes ocorridos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral da instituição. Eles integraram a equipe da médica da médica Virgínia Soares de Souza, presa desde o último dia 19, acusada de homicídio qualificado. O Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), da Polícia Civil do Paraná, não divulgou detalhes da investigação, que corre sob sigilo de Justiça.
Três dos quatro mandados haviam foram cumpridos neste sábado. Os médicos Maria Israela Cortez Boccato e Edison Anselmo da Silva Júnior foram levados à delegacia do Nucrisa, no centro da capital, para prestar depoimento. Por volta das 11h15, um terceiro médico se apresentou à polícia. Anderson de Freitas, que estava em Santa Catarina, chegou acompanhado do advogado e disse que “não tem nada a temer.”
A médica Maria Israela trabalhou cerca de seis anos no hospital. A irmã dela, Luciane Boccato, foi ao Nucrisa na manhã deste sábado e disse que a médica deixou de prestar serviços ao Evangélico há um ano e meio, por falta de pagamento. Luciane comentou que, de acordo com os relatos da irmã, Virginia era uma excelente profissional, mas ríspida. A irmã da médica afirmou ainda que desconhece as acusações da polícia contra a equipe de funcionários do Evangélico. O advogado da médica, Leonardo Buchmann, não quis se pronunciar sobre a prisão.
Depois de ouvida pelos policiais, Maria Israela foi levada ao Centro de Triagem I, que fica no centro de Curitiba. Silva foi transferido a uma delegacia da capital, já Freitas continuava no Nucrisa por volta das 12h40 deste sábado. Não há informações para a unidade onde ele foi levado após ser ouvido pela polícia.
Enfermeira vai se apresentar na segunda-feira
O quarto mandado de prisão só deve ser cumprido na próxima segunda-feira (25). A enfermeira que teve a prisão temporária decretada pela Justiça não está em Curitiba, mas deve se apresentar espontaneamente, segundo o advogado dela, Jefferson Heder dos Reis. “Ela [a enfermeira] está em férias, em outra cidade. Eu já comuniquei a delegada, por isso ela [a enfermeira] não está foragida. Eu vou apresentá-la assim que houver expediente, na segunda-feira”, afirmou.
Heder dos Reis disse que a enfermeira prestou depoimento ao Nucrisa na última quarta-feira (20) e que não haveria elementos que justificassem o pedido de prisão. O advogado contou que sua cliente ficou “bastante surpresa” com a ordem judicial, mas que pretende cumpri-la. O defensor considerou a prisão “arbitrária e ilegal” e adiantou que vai tentar revogá-la na próxima semana. “Ela está colaborando com as investigações, tem endereço fixo, trabalho lícito. Esta prisão é uma arbitrariedade total”, ressaltou.
Escutas telefônicas
A defesa da médica Virgínia Soares de Souza, apresentou neste sábado ao Nucrisa uma autorização do juiz Pedro Sanson Corat para que os advogados tenham acesso às gravações telefônicas que embasam a investigação da Polícia Civil. Porém, segundo o advogado Samir Assad,que compõe a defesa, as escutas não foram liberadas, por falta de expediente. A informação é que a delegacia só conseguiria repassar o material na próxima segunda-feira (25).
“A delegada está descumprindo uma ordem judicial. As gravações são importantes, porque eles [a polícia] estão pegando trechos de conversas, cujo contexto não sabemos qual é, e estão usando como pretensas provas”, disse Assad.
Apoio ao Evangélico
Diante das novas prisões, o Ministério Público do Paraná (MP-PR), a Secretaria Municipal de Saúde, a Secretaria de Estado da Saúde e o Conselho Federal de Medicina se reuniram neste sábado (23). As instituições emitiram nota ressaltando que a sociedade deve confiar na qualidade dos serviços prestados pelo Evangélico e no profissionalismo de sua equipe. "As investigações que têm sido noticiadas pelos meios de comunicação, por certo, não afetam a qualidade técnica dos serviços prestados no Hospital Evangélico", disse o MP-PR.
A Secretaria Municipal de Saúde ressaltou a especialização do corpo clínico do Evangélico, no qual "atuam centenas de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, alguns dos quais figuram entre os mais respeitados da comunidade médica e acadêmica de Curitiba".
Pelo Twitter, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) também se manifestou, informando que apoia as investigações, mas ressaltando que "o fato negativo não pode contaminar o hospital".
O Conselho Regional de Medicina (CRM-PR) também se posicionou em favor do hospital. Em nota divulgada à tarde, o órgão “manifesta confiança no corpo clínico da instituição, que durante décadas luta pelo bem-estar de toda a sociedade paranaense.”
O comandante da Polícia Civil, o delegado-geral Marcus Vinícius Michelotto, comentou as investigações pelo Twitter. Ele afirmou que "confia na classe médica paranaense" e explicou que o objetivo das apurações não é fechar o Hospital Evangélico, "nem generalizar um fato que consideramos ser isolado".
Abraço simbólico
O Hospital Evangélico não se pronunciou neste sábado sobre as novas prisões. No domingo (24), funcionários da instituição devem fazer uma manifestação, promovendo um abraço simbólico ao prédio, localizado no bairro Bigorrilho. A expectativa é que, após o ato, a direção do hospital se manifeste sobre as investigações e sobre os novos mandados decretados pela Justiça.
Alunos do Centro Acadêmico de Medicina Daniel Egg, da Faculdade Evangélica do Paraná - ligada ao Evangélico - também apoiaram a instituição. Em nota, os discentes destacaram "empenho e dedicação" dos profissionais e ressaltaram história de 53 anos da entidade, atuando em observação a "valores e formação moral e ética".
Polícia investiga seis óbitos na UTI
Após conseguir acesso ao inquérito sigiloso que investiga a médica Virgínia Soares de Souza, a defesa dela afirmou nesta sexta-feira (22) que a Polícia Civil apura as circunstâncias de seis óbitos e que havia um policial infiltrado como enfermeiro na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral do Hospital Evangélico.
Além disso, o advogado Elias Mattar Assad, que defende Virgínia, disse que a investigação está embasada apenas em relatos de familiares de supostas vítimas já que ainda não viu relatório algum feito pelo agente infiltrado no inquérito. A médica nega, segundo o advogado, a acusação de decidir sobre a morte de pacientes. Da Gazeta do Povo