Uma reportagem publicada no jornal “O Globo” (27-7-14) dá muito o que pensar. Julgue o leitor.
Assinada por Roberta Salomone, a matéria nos informa da existência do movimento “Eu escolhi esperar” (EEE), cujos seguidores – todos jovens, de ambos os sexos – se comprometem a manter a virgindade até o casamento. Há inclusive um famoso jogador de futebol.
Neste mundo em que a corrupção moral é propagandeada por todos os meios e atingiu índices insuspeitados, a notícia causa surpresa. Ao menos para os que ainda aspiram por padrões de sanidade moral. Um dos sinais de sua autenticidade é que os participantes desse movimento estão dispostos a sofrer perseguição dos inconformados ou dos corruptos.
De fato, Carla Duarte, 27, secretária-executiva de uma multinacional, conta: “Algumas amigas me chamaram de louca, mas posso dizer que sou muito mais feliz assim”. O idealizador do movimento, Nelson Junior, declara: “Eu mesmo sofri bullying por parte dos meus amigos quando dizia que não tinha tido relação sexual com ninguém”.
Nelsiane Carrara, 25, oficial da Marinha Mercante, confessa que teve alguns deslizes antes de conhecer o movimento: “Foi aí que eu percebi que isso não estava me fazendo bem e que estava indo contra o que eu mesmo acreditava”. Quantas outras jovens prefeririam a castidade, mas se deixam levar pela onda imoral por causa da pressão do ambiente?
Cássio Pedroso e Sara Costa, 22, namoram, mas excluem qualquer relacionamento de tipo conjugal: “Só depois de subir ao altar”.
Ana Carolina, 20 anos, colunista do site EEE, “recebe e-mails de gente de todo o país, e virou uma espécie de consultora virtual para quem quer aprender a resistir às tentações”. O vídeo do movimento no Youtube já tem mais de 1,3 milhão de visualizações. O pecado solitário também é sumariamente condenado.
Propaga-se que ser “moderno” e “prá frente” é entregar-se a todo tipo de desregramentos. Não é o que esses jovens pensam.
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Na “Folha de S. Paulo” (4-8-14) chamou-me a atenção uma crônica do conhecido jornalista Ruy Castro, comentando a mesma reportagem a que acabo de me referir. O autor analisa os fatos de um ângulo muito diferente daquele que aqui adoto, pois ele se coloca entre os libertários de 1968. Pareceu-me que o leitor gostaria de conhecer ao menos alguns trechos significativos dela:
“Acabo de saber que surgiu no Brasil um movimento chamado ‘Eu Escolhi Esperar’, composto de rapazes e moças que escolheram esperar pelo casamento para fazer sexo. Contando seu público na internet, eles já seriam dois milhões de não praticantes — de 18 a 30 anos. [...]
“Ouço falar também da volta das festas de formatura, dos bailes de debutantes, dos concursos de misses, e me pergunto: a continuar assim, onde vamos parar? Se a virgindade e a missa em latim estão de novo na praça, logo teremos a volta do vestido saco, das saias com anáguas.
“Pelo visto, nós, os garotos de 1968, que pensávamos ter derrubado essas instituições, derramamos o nosso sangue e suor [..] em vão”.
(*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
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