por Raquel Ladim | Folhapress**Foto: Reprodução
O governo de Jair Bolsonaro (PSL) dá sinais de que pretende resistir a eventuais investidas da General Motors de pleitear incentivos tributários ou qualquer outro tipo de apoio federal para manter operações no Brasil.
Em um encontro reservado com o alto escalão da montadora, Carlos da Costa, secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do ministério da Economia, foi assertivo: "se precisar fechar (a fábrica), fecha".
Segundo relatos de fontes do setor privado, o comentário foi feito durante uma reunião de pouco mais de meia hora, em 4 de janeiro, entre o secretário e o vice-presidente de relações governamentais da GM no Brasil, Marcos Munhoz.
No encontro, Munhoz relatou a Costa que a chefia da montadora nos Estados Unidos considerava as fábricas de São Caetano do Sul (SP) e de São José dos Campos (SP) praticamente "inviáveis" por causa dos altos custos.
O executivo enfatizou, por exemplo, que, enquanto a PLR (participação nos lucros) chega a R$ 20 mil por funcionário em São Paulo, não passa de R$ 7 mil em Gravataí (RS).
A argumentação, contudo, não parecia sensibilizar o secretário, um dos principais auxiliares do ministro da Economia, Paulo Guedes. Munhoz, então, foi direto: "Corremos o risco de fechar (as fábricas)".
A declaração gerou mal-estar entre os presentes na reunião, já que a GM emprega mais de 13 mil pessoas em São Caetano do Sul e em São José dos Campos. A montadora não chegou a apresentar no encontro nenhum pleito específico ao governo federal.
A GM vem ameaçando deixar a América do Sul caso não rentabilize as suas fábricas na região, principalmente em São Paulo. Na semana passada, Carlos Zarlenga, presidente da montadora no Mercosul, enviou um e-mail aos funcionários sobre o assunto.
Na mensagem, Zarlenga dizia que a GM Brasil teve prejuízo de 2016 a 2018, e que 2019 seria um ano decisivo. Ele reproduzia ainda declarações da presidente global da companhia, Mary Barra, à imprensa americana, em que ela admitia a possibilidade de sair da América do Sul.
Pouco dias depois, a GM apresentou aos sindicatos uma extensa pauta de negociação dos direitos trabalhistas para que possa continuar operando. O secretario da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, também já admitiu que estuda a possibilidade de socorrer a GM antecipando crédito de ICMS.
Já o presidente Jair Bolsonaro, que se elegeu com um discurso de redução de subsídios e abertura de mercado, ainda não se manifestou oficialmente sobre o assunto. Segundo apurou a reportagem, técnicos do governo federal veem as reclamações da montadora com estranheza, pois, quando a GM enfrentou uma forte crise nos EUA entre 2008 e 2012, as operações na América do Sul seguraram os resultados.
Quatro dias após o encontro com representantes da GM, o secretario Carlos da Costa disse em uma reunião com diferentes representantes do setor produtivo que havia três temas proibidos no governo: subsídios, proteção e mais gasto público.
Procurado pela reportagem, o secretário afirmou em nota que se reúne "rotineiramente" com representantes do setor privado e que vem afirmando aos empresários que "precisamos tornar o Brasil produtivo e competitivo, retirando os entraves que os impedem de produzir mais e melhor ".
A GM não retornou os contatos da reportagem.
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