Cid Alencastro
Devido às pressões, o governo brasileiro diz ter descartado a “importação” de médicos cubanos. Será?
Mesmo longe de casa, tais médicos não saem do controle do governo de Cuba. Foi o que aconteceu com os que foram trabalhar na Bolívia em 2006.
Pelo Regulamento editado na época, os profissionais foram proibidos de falar com a imprensa sem prévia autorização, de pedir empréstimos aos nativos e de manter amizade com outros cubanos que tenham abandonado a missão.
Eles também foram impedidos de sair de casa depois das 18 horas sem autorização de seu chefe imediato. Ao pedir permissão, os médicos deviam informar aonde iam, os motivos da saída, e se estavam acompanhados de cubanos ou bolivianos.
Se quisessem sair da área onde residiam e trabalhavam, também precisariam de autorização. E se fosse para sair de um dos departamentos bolivianos (o equivalente aos estados brasileiros), a autorização deveria ser concedida pelo chefe máximo da missão naquele departamento.
Os médicos eram ainda proibidos de beber em lugares públicos, com algumas poucas exceções como festividades nacionais cubanas, aniversários e despedidas do país de outros médicos cubanos. Pelo regulamento, eles não poderiam sequer falar, sem prévia autorização, sobre seu estado de saúde com seus amigos e parentes que vivem em Cuba.
O profissional deveria informar imediatamente às autoridades cubanas caso tivesse uma relação amorosa com alguma boliviana. Além disso, para que o namoro pudesse ir adiante, a parceira do médico deveria estar de acordo com o“pensamento revolucionário” das missões cubanas.
Segundo o Regulamento, o não cumprimento dos deveres resulta em infração, o que pode levar o médico a ser processado e punido pela Comissão Disciplinar. Entre as punições previstas consta uma advertência pública, a transferência para outro posto de trabalho no país e o [temível] regresso a Cuba.
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Era comum na Antiguidade pagã médicos serem escravos. O presidente do Conselho Diretivo do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, de Lisboa, José Pedro Sousa Dias, em sua obra História da Farmácia, da Farmacologia e da Terapêutica, escreve que “Em Roma, os médicos eram de origem grega até finais da Antiguidade; primeiro foram levados como escravos”.(http://www.ff.ul.pt/~jpsdias/docs/Homens-e-medicamentos-parteI.pdf).
Com o advento do cristianismo, essa situação mudou radicalmente. No século XX, o comunismo trouxe de volta hábitos já exorcizados do paganismo. É o caso de Cuba! Esperemos que, de fato, o Brasil não aceite médicos nessa situação. * Cid Alencastro é advogado e escritor.
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