Por Gabriela Caseff | Folhapress
Foto: Arquivo Pessoal
Um homem de 42 anos morreu durante exame de ressonância magnética do crânio em uma clínica particular em Santos (SP), na tarde de terça-feira (22). Ele teria tido dificuldade respiratória, seguida de parada cardiorrespiratória, de acordo com relato da médica que o atendeu na unidade.
O caso configura "morte suspeita", segundo laudo do serviço de verificação de óbito do Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim).
A viúva de Fábio Mocci Rodrigues Jardim, 42, disse à reportagem que quer respostas sobre o atendimento oferecido pela clínica durante o procedimento. "Não sei se ele morreu na hora, quais foram os primeiros socorros. Estou arrasada", afirma Sabrina Altenburg Penna, 44.
O administrador chegou à clínica Mult Imagem da Vila Matias, em Santos, para o exame agendado para o meio-dia. Foram atendidos às 14h. "Ele vivia sonolento, chegou a dormir na sala de espera, por isso estávamos investigando", diz Altenburg.
No prontuário de Mocci foi assinalado que ele nunca havia sido submetido à ressonância e que sofria de refluxo e pressão alta, ainda que controlada. Assinalaram também as alergias a dipirona, iodo e crustáceos.
Assim que o marido entrou para a sala de exame, a empresária desceu para almoçar. Retornou "em menos de 30 minutos".
"Perguntei para a moça se estava tudo bem e ela disse que sim, que ele estava agitado, mas normal", afirma Altenburg, que sentou-se em uma cadeira próxima à sala do procedimento.
Às 15h, ela observou uma movimentação incomum de pessoas entrando e saindo da sala. "Uma moça me disse que ele passou mal, mas estavam resolvendo", afirma ela, orientada a aguardar.
Quarenta minutos depois, segundo a empresária, dois paramédicos do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegaram ao local e abriram a porta da sala.
"Vi ele deitado e um profissional de saúde fazendo massagem com a mão. Os socorristas entraram, colocaram ele mais para baixo, rasgaram sua blusa e começaram a agir. Alguém fechou a porta e logo depois a médica saiu dizendo que meu marido tinha vindo a óbito por infarto fulminante", conta ela.
O corpo de Fábio Mocci foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para necrópsia "por exposição a outras drogas, medicamentos e substâncias biológicas", diz o laudo do Cejam.
O documento aponta ainda que ele recebeu uma dose de 15 mg de Midazolam, medicamento indutor do sono e, em seguida, teve uma parada cardiorrespiratória. O IML deu prazo de 90 dias para conclusão da perícia.
"Nós optamos pelo uso da sedação por ele nunca ter feito o exame", diz Sabrina Altenburg.
Segundo o Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o uso de sedativo durante a ressonância magnética pode ser necessário para pessoas que são claustrofóbicas e têm dificuldade em ficar paradas dentro do aparelho. Outras indicações são para promover conforto a pacientes em estado grave, que estão entubadas ou utilizam suporte ventilatório, e a crianças até 5 anos de idade.
Os riscos, segundo o instituto, são os mesmos de qualquer procedimento anestésico e devem ser explicados ao responsável antes da realização do exame.
"Não posso acusar ninguém, só quero respostas. Entrei com meu marido bem e saí com um papel na mão", diz a viúva, que consola as filhas de 6 e 14 anos.
"Ninguém da clínica me procurou. Só os familiares mesmo que estão ajudando a lidar com isso tudo. Ontem mesmo minha filha quis ligar para o pai."
A reportagem tentou contato com a Mult Imagem por telefone, Whatsapp e email e não obteve retorno até o momento da publicação desta reportagem.
A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou, em nota, que o caso está sob investigação no 2° Distrito Policial de Santos. "Foi solicitado exame ao Instituto Médico Legal (IML). O laudo está em andamento e, assim que finalizado, será analisado pela autoridade policial, que segue realizando demais diligências visando o esclarecimento dos fatos."
A Prefeitura de Santos informou que o Samu foi acionado para a ocorrência por volta de 15h. "Porém, ao chegar no local, o paciente já estava sendo atendido por um médico da clínica", diz a nota.
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