Duas pessoas envolvidas em um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foram intimidadas pela Polícia Militar na noite desta sexta-feira (28) em Caldas Novas (170 km de Goiânia).
A abordagem ocorreu em uma oficina onde estavam sendo confeccionadas faixas que seriam estendidas na cidade neste sábado (29), quando Bolsonaro visitou o município para a inauguração de uma usina fotovoltaica.
O protesto foi organizado por um grupo de moradores da cidade em redes sociais.
Foram escolhidas duas frases, uma criticando a alta do dólar e dos combustíveis e outra questionando o presidente sobre o porquê de Fabrício Queiroz e a mulher dele terem depositado R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Diante da mobilização em torno do protesto, dois policiais, um deles identificado apenas como tenente Alexandre, foram ao ateliê onde eram confeccionadas as faixas, no bairro Olegário.
Em seguida, os policiais obrigaram o proprietário do estabelecimento a entrar na viatura e ir até a casa do pintor Salmeron de Oliveira, de 51, que havia confeccionado as faixas.
Com o proprietário do estabelecimento dentro do carro, a polícia ficou parada na porta da casa de Oliveira por mais de uma hora.
“Os policiais ficaram na porta da minha casa com giroflex ligado, tentando intimidar”, afirmou Oliveira.
Os PMs só foram embora depois de pressionar Oliveira a ligar para o organizador do protesto, Andreazza Joseph Gomes, 37.
“O tenente Alexandre me ligou e disse que eu estava cometendo crime contra a honra e afirmou que estava cumprindo ordens da Abin [Agência Brasileira de Inteligência] e da Polícia Federal”, disse Gomes. Segundo ele, a polícia pediu o seu endereço, mas desistiu de ir até o local.
Neste sábado, as faixas foram estendidas pelos manifestantes nas proximidades do aeroporto de Caldas Novas, mas não houve incidentes.
No último domingo (23), durante uma visita de cinco minutos a ambulantes da Catedral de Brasília, um repórter do jornal O Globo questionou o presidente sobre os motivos para Queiroz e sua mulher terem repassado esse valor para a conta de Michelle.
Após a insistência do repórter, sem olhar diretamente para ele, afirmou: “A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?”.
Amigo do presidente há 30 anos, Queiroz atuou como assessor de Flávio na Assembleia, quando o filho do presidente era deputado estadual. Queiroz está em prisão domiciliar e, assim como Flávio, é investigado sob suspeita dos crimes de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A Folha de S.Paulo entrou em contato com a assessoria da Polícia Militar de Goiás às 13h20 deste sábado pedindo um posicionamento sobre o episódio. Contudo, até às 18h, não houve resposta nem por e-mail nem por mensagem.
A assessoria da secretaria de Segurança Pública de Goiás também foi acionada pela reportagem, mas informou que apenas a Polícia Militar poderia responder aos questionamentos.
A reportagem ligou ainda para o telefone celular do tenente Alexandre, mas ele não atendeu às ligações.
O estado de Goiás é governado por Ronaldo Caiado (DEM), um dos principais aliados do presidente. Os dois haviam rompido após o governador criticar a postura de Bolsonaro e a condução da pandemia do coronavírus pelo governo federal, mas reataram as relações;
Em discurso neste sábado durante a inauguração de uma usina fotovoltaica, em Caldas Novas, Caiado destacou o trabalho das forças de segurança do estado e elogiou o presidente.
Sem máscara de proteção facial, Bolsonaro cumprimentou pessoas apertando as mãos e dando abraços.
Em julho, a prefeitura de Caldas Novas publicou decreto que obriga moradores e turistas a usarem máscaras na cidade. Não há previsão de pagamento de multa ou de outro tipo de punição para quem descumprir a regra. Durante o evento, junto às demais autoridades, o presidente usou máscara.
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