por Fernando Duarte
Em mais um pronunciamento, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), falou em “juntar os cacos da convergência” para tentar manter o respeito entre os Poderes da República. A fala de Maia aconteceu após outro arroubo do presidente Jair Bolsonaro, que atacou a operação da Polícia Federal que teve como alvo apoiadores dele, ao mesmo tempo em que usava vias legais para recorrer de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). É, amigos, chegamos a uma fase da vida em que cabe ao Congresso buscar a sensatez de um presidente.
Essa voz ponderada encontra eco nos posicionamentos dos presidentes do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre, e do próprio STF, Dias Toffoli, temporariamente longe dos holofotes por uma licença médica. Dentro dessa republiqueta, apenas Bolsonaro tem sido dissonante. O chefe do Executivo brada, por vezes, em um tom muito mais grave e menos adequado do que o esperado para o chefe de uma nação. Se bem que o número de pessoas que acha que a faixa presidencial poderia alterar o comportamento de Bolsonaro cai a cada vez que ele se predispõe a abrir a boca.
Por mais que haja uma escalada de tensão sobre a nossa democracia, vide as posições dos bolsonaristas após a operação do inquérito das Fake News, eu tento enxergar as declarações como “siris na lata”. É uma expressão bem comum nas cidades litorâneas e uma referência ao destino de um siri capturado, que não tem para onde correr e apenas faz barulho. Por mais que os cenários sigam pessimistas, a vida ainda me obriga a manter um grau de otimismo sob o risco de perder completamente a sanidade – sim, o Brasil pode nos deixar loucos.
Discordo de muitas pessoas na vida. Concordo com outras tantas. E sempre que possível tento usar argumentos lógicos para tentar abrir o horizonte de quem conversa comigo. Foi assim que revi posicionamentos machistas e homofóbicos, por exemplo. É um processo de aprendizado constante e há muito caminho a se percorrer. No entanto, não me furto em admitir que é possível – e necessário – mudar.
Durante o mandato de Michel Temer, o posicionamento de Rodrigo Maia me incomodava. Mesmo não sendo um espaço compartilhado pelo Executivo, vinha também dele a articulação para a votação de projetos e a rejeição das denúncias contra o ex-presidente. Ainda assim, tudo ocorreu dentro do campo da democracia. Ficava meio indignado, mas seguia a vida. Só não achava que, em tão pouco tempo, iria mudar de opinião sobre o presidente da Câmara.
Pelo andar da carruagem, ao invés de montar os “cacos da convergência”, meu medo é juntar cacos da República. Tudo isso enquanto lamentamos os mais de 26 mil mortos por Covid-19, ignorados rotineiramente por Bolsonaro. Quem diria que o Botafogo iria me fazer manter a calma...
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