CÍCERO MORAES/BBC BRASIL
Baixinho, sem barba e de cabelo curto:
O assunto é recorrente no Reino Unido. Em 2001, a rede BBC produziu um especial, mostrando as reconstruções faciais feitas por Richard Neave. Utilizando-se de três crânios de antigos habitantes da região onde Jesus teria vivido, ele e sua equipe utilizaram a modelagem 3D para propor como seria um rosto típico de um judeu do primeiro século. A ideia era mostrar a aparência mais provável de Jesus. Os esqueletos de judeus dessa época mostram que a altura média era de 1,60 m e o peso médio era pouco mais de 50 quilos. Ou seja, Jesus seria baixinho e magro. As conclusões de Taylor são semelhantes. “Os judeus da época eram biologicamente semelhantes aos judeus iraquianos de hoje em dia. Assim, acredito que ele tinha cabelos de castanho-escuros a pretos, olhos castanhos, pele morena. Um homem típico do Oriente Médio”, explica. A cor da pele é uma estimativa. “Certamente ele era moreno, considerando a cor de pessoas daquela região e, principalmente, analisando a fisionomia de homens do deserto, gente que vive sob o sol intenso”, revela o designer gráfico brasileiro Cícero Moraes. Especialista em reconstituição facial forense, ele já fez reconstituição facial de 11 santos católicos. Também criou uma imagem de Jesus Cristo a partir de dados históricos e arqueológicos. Para o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, professor da Universidade Federal de Alagoas, “O melhor caminho para imaginar a face de Jesus seria olhar para algum beduíno daquelas terras desérticas, andarilho nômade daquelas terras castigadas pelo sol inclemente”. A rejeição da longa cabeleira tão comum em pinturas medievais é por que na Epístola aos Coríntios [11:14], o apóstolo Paulo escreve que “é uma desonra para o homem ter cabelo comprido”.
“Para o mundo romano, a aparência aceitável para um homem eram barbas feitas e cabelos curtos. Um filósofo da antiguidade provavelmente tinha cabelo curto e, talvez, deixasse a barba por fazer”, insiste Taylor. O historiador André Leonardo Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) explica que as primeiras iconografias conhecidas de Jesus, datadas do século 3, mostravam-no de rosto liso e cabelos curtos. “Era muito mais a representação de um jovem filósofo, um professor, do que um deus barbudo”, assegura. A representação “clássica”, de Jesus barbudo e cabeludo se popularizaram na Idade Média, no auge do Império Bizantino. O professor Chevitarese diz que essa representação da figura de Cristo como um ser invencível trazia semelhanças físicas com os reis e imperadores da época. O sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), diz que em outros lugares do mundo havia representações distintas. “Nas Igrejas Católicas do Oriente, o ícone de Cristo deve seguir uma série de regras para que a imagem transmita essa outra percepção da realidade de Cristo. Por exemplo, a testa é alta, com rugas que normalmente se agrupam entre os olhos, sugerindo a sabedoria e a capacidade de ver além do mundo material, nas cenas com várias pessoas ele é sempre representado maior, indicando sua ascendência sobre o ser humano normal, e na cruz é representado vivo e na glória, indicando, desde aí, a sua ressurreição.”
O sociólogo acredita que isso também é uma questão cultural. “O problema da representação fiel ao personagem histórico é uma questão do nosso tempo, quando a reflexão crítica mostrou as formas de dominação cultural associadas às representações artísticas”, avalia. “Nesse sentido, o problema não é termos um Cristo loiro de olhos azuis. É termos fiéis negros ou mulatos, com feições caboclas, imaginando que a divindade deve se apresentar com feições europeias porque essas representam aqueles que estão ‘por cima’ na escala social”, encerra. (Com informações de BBC - Via Gospel Prime - Jarbas Aragão)
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