Pessoas que geralmente dormem mais de nove horas por noite têm o dobro de risco de desenvolver demência em dez anos, na comparação com os que dormem até nove horas. Esta é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Boston, divulgado esta semana na revista científica 'Neurology'.
As informações utilizadas fazem parte do Framingham Heart Study, um painel de pesquisas do Instituto Nacional do Coração dos Estados Unidos, que, desde 1948, coleta dados médicos de milhares de pessoas na cidade de Framingham, no estado de Massachusetts. Os participantes do levantamento foram convidados a indicar o tempo de sono a cada noite, sendo observados por dez anos para que fosse determinado quem desenvolveu a demência ao longo do tempo.A associação entre demência e sono mais longo, porém, não é causal, segundo os pesquisadores: na verdade, um volume maior de horas na cama seria um sintoma de degeneração no cérebro. Os pesquisadores demonstraram que “dorminhocos” apresentaram menores volumes cerebrais. Assim, tentativas de restrição do sono provavelmente não teriam efeito.
"Relatos próprios sobre a duração do sono podem ser uma ferramenta clínica útil para ajudar pessoas com quadro de risco para o desenvolvimento da demência dentro de uma década", indica o neurologista Matthew Pase, coautor do estudo. "Aquelas que falam de longas horas de sono podem justificar uma melhor avaliação e o monitoramento do pensamento e da memória". Conteúdo iBahia.
Outra arma eficaz contra a doença é o nível de escolaridade: a relação entre participantes sem diploma de ensino médio e que dormiam mais de nove horas por noite com o risco de desenvolver a doença foi seis vezes maior.
Deficiências crônicas
Neurologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Cícero Galli Coimbra ressalta, porém, que a degeneração neurológica está associada a vários fatores, que vão do estado emocional à alimentação do paciente.
"Dormir é uma coisa extremamente importante para o sistema nervoso, mas há certas deficiências crônicas que provocam distúrbios do sono, como as alterações emocionais, que levam à inflamação crônica do cérebro, e as deficiências de magnésio e vitamina D. São centenas de milhares de estudos que mostram essas relações, que funcionam em um ciclo vicioso", explica.
A médica Andrea Bacelar, vice-presidente da Associação Brasileira do Sono, recomenda cautela antes de associar o sono por mais de nove horas à demência. E ressalta que quem tem uma atividade mental intensa necessita de um sono de qualidade para que o aprendizado seja retido.
"Precisamos estudar se a 'arquitetura do sono' da pessoa é normal. Podemos fazer isso respondendo algumas perguntas: durmo tanto assim há muito tempo, ou este foi um hábito que adquiri? Outra: se eu durmo nove horas, me sinto bem durante o tempo em que estou acordada ou me sinto cansada? A partir daí é possível averiguar se existe algum problema na atividade mental".
De acordo com Andrea, dormir muito não equivale a ter um sono de qualidade. "Pode ser que o indivíduo que dorme mais de nove horas sofra de problemas como falta de oxigênio nos neurônios e alterações no metabolismo da glicose", avalia. "Mas vale lembrar que as pessoas que fazem privação voluntária do sono e dormem menos de seis horas também estão expostas a problemas de saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a demência atinge atualmente 47,5 milhões de pessoas, e novos 7,7 milhões de casos surgem anualmente. Estima-se que o mal de Alzheimer cause de 60% a 70% dos casos de demência". Conteúdo iBahia.
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