A equipe de gerenciamento de risco do frigorífico brasileiro JBS está fazendo fortuna com o colapso da moeda brasileira, afirma artigo da Bloomberg publicado na última terça-feira (30). De acordo com a reportagem, o grupo pode contar com apenas 0,003% da mão de obra de 215.000 pessoas da JBS, mas, com uma das maiores posições de hedge cambial dentre as empresas não financeiras, deverá lucrar mais do que com suas operações envolvendo carnes bovina, suína e de aves juntas.
Diz a reportagem: “Com o real amargando perdas de 35% em relação ao dólar, o Credit Suisse estima que o lucro da JBS com os derivativos cambiais tenha aumento de R$ 15 bilhões (US$3,65 bilhões) durante o ano.” No entanto, embora esteja funcionando até o momento, a estratégia não vem sem riscos.
Se a produtora for pega na contramão do mercado e o real tiver súbita valorização, suas perdas poderão aniquilar grande parte das reservas de caixa da companhia. “Parece uma estratégia agressiva”, afirmou o analista da Credit Suisse Viccenzo Paternostro à reportagem da Bloomberg. “A JBS tem muitos ativos em dólares, com grandes operações nos Estados Unidos, Europa e Austrália. Ela não precisa cobrir tudo em dólares, poderia cobrir apenas a parte brasileira”, completou. Jornal do Brasil
Os irmãos brasileiros que administram a companhia, Wesley e Joesley Batista, fizeram seu nome apostando grande, muitas vezes adquirindo empresas não lucrativas e assumindo suas dívidas, enquanto transformavam o pequeno açougue fundado por seu pai no maior produtor de carne bovina do mundo. “Internacionalmente, a JBS é mais conhecida como a empresa que adquiriu a Pilgrim’s Pride, dentre outras grandes empresas, em uma série de aquisições que já somam mais de US$ 20 bilhões na última década. Mas, nos círculos financeiros do Brasil, essas apostas cambiais lhe renderam um apelido: o fundo de hedge que vende carne”, diz o artigo.
O que chama a atenção na posição de derivativos da JBS não é apenas o seu tamanho, de US$ 12 bilhões em apostas contra o real, mas também a lógica por trás da aposta. De acordo com a Bloomberg, a empresa diz estar simplesmente se protegendo contra a desvalorização cambial, que aumenta o valor de sua dívida em dólares. Para analistas, no entanto, a justificativa é curiosa para uma companhia com 80% de sua receita em dólar. Na avaliação do mercado, afirma a reportagem, o tamanho do programa de hedge da JBS sugere um componente especulativo na sua estratégia.
Em entrevista concedida à agência de notícias em maio, o CEO da JBS, Wesley Batista, contrariou projeções de economistas sobre a desvalorização da moeda brasileira. Enquanto eles previam uma queda de apenas mais 6% até o fim de 2015, Batista afirmou que o processo de baixa estava "apenas no começo". Na mesma época, a empresa estava perto de completar um aumento de quase 5% em posição de derivativos, na comparação com dezembro de 2014. Desde a entrevista, o real caiu mais 26%. Desde o início do ano, em contrapartida, as ações da JBS subiram 49%.
"Definitivamente não acreditamos em hedges naturais porque não se pode garantir que as receitas e as margens continuarão constantes em dólares", afirmou o diretor financeiro da JBS, Jerry O'Callaghan, à reportagem da Bloomberg. "Nós consideramos que nossa estratéfica é prudente e de nenhuma maneira especulativa", concluiu o executivo.
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