Ele não devia estar ali. Mas queria estar ali. Despedaçou o atestado médico que o dispensava de sentar no cockpit naquela manhã. Encobriu sua condição, sua falta de condição. Acomodou-se na cabine, na poltrona à direita e, às dez horas e um minuto, com precisão aeronáutica, cumpriu seu dever. Assistiu ao piloto e botou o avião a voar. Por vinte minutos, ouviu o colega falar amenidades, replicando com cortesia e brevidade. O piloto, então, deixou a cabine. Ele foi instantaneamente promovido. Naquele instante, Andreas Lubitzassumia o controle. Aos 27 anos, quiçá pela primeira vez. Passou a comandar, solitário, as setenta toneladas de aço que carregavam mais cento e quarenta e nove vidas, além da sua. Trancou-se no cockpit. Ignorou os chamados desesperados do piloto do lado de fora. O comandante agora era ele. Exatamente trinta minutos depois da decolagem, Lubitz deu início a uma descida firme. Inabalável. Tão antinatural quanto o que parece ter sido a escolha de Lubitz, de tirar a própria vida, foi o choque entre o corpo metálico do Airbus com a superfície rochosa e gelada dos Alpes franceses. Foi a morte dos outros 149 ocupantes da aeronave, que, aos gritos, só se deram conta do fim que lhes foi imposto nos últimos segundos. Antinatural é a opção do suicídio. É jogar um avião no chão. É dar cabo de tantas vidas por querer desesperadamente uma saída para a sua. LEIA MAIS
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