BRUNO CALIXTO
Vista aérea do campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia (Foto: Mandel Ngan/AP)
Imagem de satélite divulgada pela ONU mostra o campo de refugiados sírios de Zaatari, na Jordânia. O campo está se transformando em uma "cidade improvisada" (Foto: Reprodução/ONU)
Na rua principal de Zaatari, batizada de Champs-Élysées, os moradores podem ir ao supermercado, comprar pizzas, visitar um pet shop ou uma floricultura. Há uma agência de viagens, com um serviço para levar ao aeroporto. A rua poderia até ser confundida com a via principal de uma cidade. Zaatari, no entanto, não é uma cidade: é o maior campo de refugiados do mundo.
Zaatari, na Jordânia, foi o destino escolhido por milhares de pessoas fugindo da guerra na Síria. O conflito, que começou com manifestações populares contra o regime de Bashar al-Assad, transformou-se em uma guerra civil que já dura três anos, envolvendo o regime sírio, rebeldes seculares e islâmicos e a ascensão de um califado no Iraque e Síria.
Na última semana, a ONU divulgou uma imagem de satélite que mostra como Zaatari se transformou na maior "experiência urbanística" do mundo. Hoje, entre 80 mil e 85 mil sírios vivem no local, o que coloca o campo entre as quatro maiores cidades da Jordânia. São famílias que conseguem manter uma vida de relativa normalidade, apesar de sonhar em retornar para a Síria. Um vídeo, também da ONU, mostra como Zaatari cresceu e se transformou em uma cidade informal de mais de 500 hectares.
Crianças de famílias refugiadas da guerra na Síria brincam em balanço em Zaatari, na Jordânia (Foto: Muhammed Muheisen/AP)
Fachada do primeiro supermercado a abrir as portas dentro do campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, em fevereiro de 2014 (Foto: Salah Malkawi/ Getty Images)
Uma reportagem do The New York Times compara Zaatari com outro campo que abriga sírios. Azraq, também na Jordânia, é um campo de refugiados "clássico", com tendas fixas e fortemente controlado por forças policiais. Ele foi erguido para 100 mil sírios, mas atende apenas 10 mil. Essa organização mais rígida e a falta de energia elétrica faz as famílias abandonar o local para migrar para Zaatari, onde encontram regras mais flexíveis. A ONU, responsável pelo local, não tem condições de manter o controle e evitar que os moradores transformem, aos poucos, as tendas em barracos e casas, comercializem produtos e personalizem o local onde estão morando.
Isso não significa que a vida em Zaatari seja boa. A própria ONU admite a existência de inúmeros problemas, como criminalidade e prostituição. Além disso, a maior parte do comércio é irregular. A energia elétrica só existe graças a ligações ilegais. Há até mesmo um mercado ilegal imobiliário que possibilita aos refugiados com mais posses viver em bairros mais bem localizados.
Segundo o NYT, a rápida transformação local impressiona urbanistas, e já faz as agências de ajuda a refugiados pensar em mudanças na forma de atender essa população. É até mesmo possível que, no futuro, o campo se transforme de fato em uma cidade – permanente, urbanizada e dentro da lei. Por enquanto, é local onde os refugiados têm chance de sobreviver a uma guerra que já matou mais de 170 mil pessoas, e não tem previsão de acabar. http://epoca.globo.com
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