Os vagões exclusivos para o gênero feminino, batizados ironicamente com o apelido, ou melhor, pecha, de cor-de-rosa, não são conquista das mulheres. São, na verdade, uma vergonha. Um sinal da predominância da cultura latina machista, que trata a mulher como objeto. Cultura legimitada, em grande parte, por programas televisivos e anúncios publicitários, que usam a mulher para vender de agulha a avião. Onde já se viu, em pleno século 21, segregar mulheres para garantir que elas não sejam vítimas de abusos dentro de trens e metrôs?
E o pior é que esses vagões ditos especiais vêm sendo paulatinamente adotados em várias capitais do Brasil. Eles já existem em Brasília, no Rio de Janeiro e vêm sendo estudados na capital mineira. No início deste mês, viraram lei em São Paulo. E motivo de muitos protestos, reclamações e marchas durante a semana. E com razão.
Sua adoção é, além de tudo, uma contradição com a atual situação das mulheres no Brasil. O país é governado por uma mulher e é uma nação onde é cada vez mais comum encontrar pessoas do sexo feminino como arrimo da casa. Elas representam também a maior parte da população brasileira.
Uma maioria que não pode ir ou voltar para o trabalho sem correr o risco de ser vítima de abusos dentro do transporte coletivo. Mas que cultura é essa que responsabiliza as vítimas no lugar de punir os culpados? Que trata o espaço público como de excelência dos homens?
Muitas mulheres, com certeza, preferem andar espremidas nos vagões rosa do que se arriscar nos vagões mistos. Mas não é possível aceitar uma medida paliativa e segregadora para resolver um problema que tem a ver com a cultura machista e patriarcal que predomina no Brasil. É preciso uma política e uma legislação que de fato enfrentem esse problema. E não apenas soluções fáceis e obscurantistas. Ou voltaremos às trevas. por Eduardo Homem de Carvalho
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