Julio Cesar comemora vitória do Brasil contra o Chile (Foto: Hassan Ammar/AP)
A Copa de 2010 durou quatro anos para Julio César. Após um cruzamento de Sneijder, do lado direito do ataque holandês, o goleiro saiu mal do gol, a bola desviou em Felipe Melo e entrou. A Holanda venceu por 2 a 1, nas quartas de final, e eliminou o Brasil do mundial. A cena de Júlio César aos prantos, ainda no gramado, não saiu da memória de nenhum brasileiro. E o lance em que ele falhou não o abandonou por um único momento nestes quatros anos.
Julio ficou afastado da seleção por dois anos e meio. Retornou em um amistoso contra a Inglaterra no início de 2013. O Brasil perdeu pelo mesmo placar do último jogo que ele havia disputado pela Seleção: 2 a 1. Mas recomeçava ali a história do goleiro na Seleção e surgia a tão esperada oportunidade de se livrar da cena que o perseguia desde 2010.
A Copa das Confederações de 2010 representou uma primeira oportunidade de redenção para Julio. Como costuma fazer debaixo das traves, ele agarrou. No mesmo Mineirão, que lhe proporcionaria a redenção definitiva um ano depois, Julio defendeu um pênalti, aos 14 minutos do primeiro tempo. A defesa da penalidade cobrada pelo uruguaio Forlán, nas semifinais do torneio, foi crucial para garantir a classificação brasileira à final. E parecia ter garantido também sua presença na Copa do Mundo do ano seguinte. Só parecia.
Sem chegar a um acordo com seu time na Inglaterra, o Queens Park Rangers, rebaixado à segunda divisão inglesa, Julio teve dificuldades para conseguir um novo clube. Ele chegou a ter várias propostas de clubes europeus, a maioria da Itália, mas as cifras atrapalhavam um acerto. Após um longo período de inatividade, Julio conseguiu a liberação para atuar na Major League Soccer. Acertou com o canadense Toronto FC e foi para a América do Norte em busca de carimbar sua ida à Copa, pois, apesar de ser o homem de confiança de Felipão, foi avisado pelo próprio de que teria de estar atuando para ser convocado.
Veio a lista de convocados para o mundial e ele estava. No mesmo cenário em que ele pode se reabilitar perante a torcida brasileira há um ano, viria a reconquista definitiva de seu lugar no coração dos torcedores brasileiros. Após uma partida muito mais dura contra o Chile, pelas oitavas de final a Copa, do que o mais pessimista torcedor brasileiro poderia imaginar, ele se consagrou. Depois de um primeiro tempo razoável e um segundo sofrível da Seleção Brasileira, a decisão foi para a prorrogação, em que o travessão salvou o Brasil de uma trágica eliminação nas oitavas de final - o que não ocorria desde 1990.
A decisão foi para os pênaltis e, para Julio César, chegou a oportunidade definitiva para tentar corrigir o passado. Após a primeira cobrança de David Luiz, que colocou o Brasil na frente, Julio pegou o pênalti batido pelo chileno Pinilla, enlouquecendo a torcida brasileira, que, mais uma vez, o havia visto com os olhos lacrimejados após o fim da prorrogação. Ele parecia só se lembrar de quatro anos atrás. "É Julio César, é Julio César" tomou conta do Mineirão.
Willian perdeu a segunda cobrança brasileira. Os gritos de Julio César tomaram, de vez, conta de Belo Horizonte. Ele saltou e mais um vez pegou. Desta vez, o pênalti cobrado por um dos principais craques do time chileno: o atacante Alexis Sánchez, do Barcelona. Caso o Brasil vencesse, a vitória já teria nome: seria Julio César.
As cobranças seguiram e, após o pênalti convertido por Neymar na última chance brasileira, a vitória estava nas mãos de Julio. Se ele pegasse, o Brasil estaria classificado para as quartas. A trave o ajudou e o choro de quatro anos atrás se transformou em uma alegria incontida.
O goleiro brasileiro chegou à Copa de 2010 com status de um dos melhores, se não o melhor, do mundo em sua posição. Havia acabado de vencer a Liga dos Campeões da Europa pela Inter de Milão. No entanto, a Copa daquele ano não foi como ele imaginou. Os anos seguintes tampouco. Mas 2014 parece ter tudo para ser tudo aquilo que 2010 poderia ter sido e não foi. "Desculpe se eu falo bastante, mas é que eu tenho que resumir quatro anos", disse o goleiro, após a partida deste sábado. http://epoca.globo.com/LEOPOLDO MATEUS E ALBERTO BOMBIG
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