Antonio Imbassahy*
As chuvas voltaram a vários pontos do sertão, modificando a paisagem, mas não são suficientes para mudar o quadro de penúria e prejuízos deixado pela maior estiagem dos últimos 50 anos no Nordeste. As águas, tardias, trazem alento ao sertanejo, mas causam também apreensão. Primeiro porque, do chão calcinado pela inclemência do sol, o verde que rebrota é só capim bravo e erva daninha, que arrasam pastos. A chuva que desce, aqui e ali, na chamada ‘seca verde’, dá para abastecer os porrões, mas não enche cacimbas, não faz sangrar barragens, e logo se vai. Tem sido assim nos últimos anos.
Pior é que, com o verdejar, os tão esperados e essenciais recursos do governo, que nunca chegaram de fato ao campo, agora sejam de vez esquecidos ou desviados por descaminhos conhecidos, sufocando de vez a chance de recuperação, de resgate da vida e da prosperidade nas regiões flageladas. O sertanejo está quebrado, endividado. Perdeu a lavra ressequida, o gado de fome e sede, o crédito. O comércio foi afetado, a mão de obra, a família. Não há dinheiro circulando, nem o que fazer.
As ações governamentais são paliativas. As verbas foram vistas apenas nas propagandas, na tevê. Tratores, máquinas e implementos agrícolas liberados, desde setembro do ano passado, enferrujaram em galpões e áreas do Derba, inúteis, porque os municípios estão inadimplentes e, assim, ‘incapacitados’ de receber a ajuda.
O descaso é histórico. No século XIX o imperador Pedro II, diante do ‘miserê’ de uma estiagem sem fim, prometeu vender as joias da coroa para amparar o povo faminto. Não as vendeu. Em 1970, o general Médici comoveu-se, mas criou apenas ‘frentes de trabalho’, como as ‘frentes de emergência’ da seca de 1958, as ‘frentes produtivas’ de 1983 ou como ‘medidas emergenciais’ da presidente Dilma. DNOCs, Sudene, Incra, Banco do Nordeste foram criados para auxiliar o combate à seca. Todos, porém, se desviaram do objetivo, a serviço de interesses mais oportunos.
Não existe combate à seca, mas dá para planejar ações de convivência, com irrigação, perenização de rios e aguadas, barragens, açudes, sistemas de distribuição de água, cisternas, cultivos apropriados, plantio de vegetação resistente – que também alimente a criação -, criatórios adequados, tecnologias que promovam o desenvolvimento sustentável da região, implantação de pequenas indústrias, escolas técnicas e negócios que floresçam independentes do clima, assistência técnica e proteção do governo, mais crédito bancário flexível, anistia e renegociação de dívidas, incentivo ao empreendedorismo e fortalecimento dos municípios, com uma política de assistência diferenciada.
Os governos precisam olhar de modo diferenciado para o semiárido, tirando-o da condenação climática ao subdesenvolvimento e à miséria. Planejamento e decisão política, eis a saída.
* Antonio Imbassahy é deputado federal pelo PSDB e líder da oposição no Congresso
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