Foto: Divulgação
Numa noite de janeiro de 1970, Dilma Rousseff teve um pesadelo: sonhou que seria presa. Acordou assustada, mas não tratou o sonho como um pressentimento. Às 16 horas do dia 16 do mesmo mês, a presidente estava cercada. “Caiu” em São Paulo, onde seria submetida a 22 dias de tortura, antes de ser presa na “Torre das Donzelas”, no presídio Tiradentes. Carlos Franklin de Araújo, codinome “Max” e até então marido de Dilma, ou “Estela”, ficou dez meses sem se comunicar com a companheira de guerrilha. Enquanto Dilma sofria na prisão, Carlos mantinha um tórrido romance com a atriz Bete Mendes, que encantava o Brasil na novela Beto Rockfeller, fazendo par com o ator Luiz Gustavo. Bete chegou a se envolver com a VAR-Palmares, a mesma organização de guerrilha de Max e Estela e, por sorte não foi presa. Pulou do carro cinquenta metros antes.
Dilma perdoou a primeira traição de Carlos Araújo, mas não a segunda. Quando deixou a prisão, em São Paulo, sentindo uma imensa solidão, pois vários de seus companheiros estavam presos ou exilados, foi viver no Rio Grande do Sul, às margens do Rio Guaíba. E quando soube que Araújo tinha outra mulher, o colocou para correr de casa. Hoje, os dois são grandes amigos e é a ele que ela recorre nos momentos de aperto – como, recentemente, quando soube que precisava tratar de um câncer. Na guerrilha, Dilma também sugeriu, num determinado momento, que Carlos adotasse o codinome “Pedro”, numa referência a seu pai, Peter Rousseff, que faleceu quando ela ainda era uma criança. A morte do pai, segundo Dilma, significou o desaparecimento do seu “superego”, que talvez ela tenha procurado no ex-marido Carlos Franklin de Araújo, uma das principais fontes do livro “A vida quer é coragem”, lançado recentemente pela editora Primeira Pessoa.
Escrito pelo mais do que competente jornalista Ricardo Amaral, a biografia é reveladora e também injustiçada. Foi tratada como um livro de propaganda política, pelo simples fato de Ricardo ter assessorado Dilma durante um curto período na Casa Civil. Ao contrário disso, trata-se de um livro sincero, objetivo e que contribui muito para a compreensão de uma identidade tão complexa como a de Dilma, uma mulher que perdeu o pai na pré-adolescência, envolveu-se com jovens sonhadores, foi Vanda, Estela, Luiza, participou da mais ousada ação da guerrilha brasileira (o roubo do cofre de Adhemar de Barros) e conheceu a tortura e a crueldade das prisões até o momento em que, fora da clandestinidade, fez um longo e tortuoso processo político até se tornar a primeira mulher presidente do Brasil.
Num artigo publicado na Folha de S. Paulo deste sábado, a senadora Marta Suplicy, amiga de Dilma, fala sobre as muitas surpresas que o livro de Ricardo Amaral, ganho no Natal, tem lhe proporcionado. Marta, por exemplo, desconhecia o papel de analista política que Dilma desempenhou para o PDT de Leonel Brizola, nos seus primeiros anos no Rio Grande do Sul.
Com seu primeiro ano de governo terminando neste sábado, Dilma fecha 2011 com uma aprovação superior à de seus dois antecessores, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, o que não é pouca coisa, quando se olha para um mundo em crise econômica e um ambiente político em Brasília tomado por vários escândalos de corrupção.
O fato é que Dilma sempre soube se adaptar às situações mais difíceis e, ainda assim, seguir em frente. E se alguém acha que conhece a presidente sem ter lido o livro de Ricardo Amaral, estará redondamente enganado. De http://brasil247.com.br/
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