O cantor Caetano Veloso lamentou a decisão da Justiça que impediu que ele fizesse um show na ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. “Ser impedido de cantar não é bom. Mais do que nunca é preciso cantar, como diz a música de Vincius de Moraes (Marcha de Quarta-feira de Cinzas). Porque há muita dificuldade”, disse Caetano, que foi ao terreno ocupado por seis mil famílias.
“É a primeira vez que sou impedido de cantar no período democrático.” Um show dele estava marcado para ocorrer às 19h no local, mas a Justiça de São Paulo aceitou pedido do Ministério Público para impedir o evento. As informações são do G1.
“As pessoas esperavam que houvesse o show. As pessoas viram que nós viemos, vieram outros artistas, Criolo, Ermicida, atrizes. Me viram juntos perto deles.”
“Eu não sou técnico em questões legais. Me sinto mal, dá a impressão que não é um ambiente propriamente democrático. É um modo de reprimir uma ação que seria legítima. Mas eles apresentam justificativa por causa de segurança. Acho que há má vontade deles. Envolve a prefeitura da cidade, a parte jurídica. Aceitei vir porque me interessou a questão.”
“Isso aqui está há 40 anos sem função social. A invasão tem sentido de exigir que a lei se cumpra. A gente está perto das pessoas. Viver e cantar.”
Caetano disse que dedicaria a música “Gente” para as pessoas da ocupação.
O cantor chegou no início da noite desta segunda-feira (30) à ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) no Bairro Planalto, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Caetano chegou pouco depois das 18h30 e foi acompanhado por pessoas que estavam na ocupação e por fotógrafos. O cantor Criollo também aparece no vídeo que mostra a chegada do cantor baiano.
A produtora e empresária Paula Lavigne afirmou, após a chegada de Caetano, que a apresentação deverá ocorrer em outra ocasião. “Nao vai ser dessa vez, mas prometo que vai rolar”, disse.
“A gente não está aqui para descumprir nenhuma ordem judicial, e o show será cancelado.”
“[Será] remarcado, com certeza. Vamos ver o que precisamos fazer para o show ser remarcado, nem que o pessoal da ocupação vá para outro local para ver o show”, declarou Paula Lavigne, produtora e empresária.
Caetano e os demais artistas chegaram a subir no palco que foi montado para o show, mas o cantor não se apresentou. Manifestantes gritaram em defesa da ocupação e aplaudiram os artistas, que falaram brevemente, com mensagens de apoio e solidariedade aos integrantes do Movimento.
“Não estamos aqui para fazer guerra. Estamos aqui em missão de paz. Viemos aqui apoiar vocês, apoiar a ocupação. (…)Eu prometo que a gente vai fazer esse show, seja aqui ou em qualquer outro lugar”, disse Lavigne no palco.
Decisão barra show
A decisão para barrar o show é da juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo do Campo. Ela estabelece uma multa de R$ 500 mil caso não seja cumprida a decisão. “Fica deferida ordem policial, caso necessário”, escreveu em sua decisão.
No texto da decisão, a juíza diz que “trata-se de ação civil pública, onde o Ministério Público pede tutela provisória de urgência, para não realização de show artístico, que seria realizado em local que foi ocupado, e que está sub judice referida ocupação.”
Ainda segundo o texto, a juíza considera que o “local que não possui estrutura a suportar show, mormente para artistas da envergadura de Caetano Veloso, um dos requeridos nesta ação.”
“Seu brilhantismo [de Caetano] atrairá muitas pessoas para o local, o que certamente colocaria em risco estas mesmas, porque, como ressaltado, não há estrutura para shows, ainda mais, de artista tão querido pelo público, por interpretar canções lindíssimas, com voz inigualável”, afirma a juíza na decisão.
Coordenador nacional do Movimento, Guilherme Boulos defende que a medida é descabida e preconceituosa. O MTST ainda não foi notificado da decisão.
“Primeiro, isso é um absurdo. Não se pode vetar dessa maneira uma apresentação cultural de solidariedade a um movimento social e a uma ocupação. É descabida essa decisão. Mostra até que ponto o judiciário brasileiro, ou parte dele, está tomada por um preconceito e por um ranço antipopular.”
Moradores vizinhos à ocupação também haviam protocolado na Prefeitura um pedido de providências em relação ao evento desta segunda-feira. No mês passado eles fizeram uma manifestação contra a ocupação.
Prefeitura pede apoio da PM
Em nota, a Prefeitura de São Bernardo do Campo informou que tomará medidas para o cumprimento da ordem judicial que vetou a realização do show, “solicitando apoio da Polícia Militar”. A gestão municipal ainda alega que “o cantor Caetano Veloso poderá realizar o evento no município quando desejar, desde que cumpra a legislação municipal”.