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terça-feira, 14 de julho de 2015

Engenheiro cria aparelho para aproveitar calor da água que vai pelo ralo

HARUMI VISCONTI
Fernando Brucoli, da empresa Enercycle (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)

Em 2001, a escassez de eletricidade no Brasil ameaçava indústrias, hospitais, aeroportos... e chuveiros elétricos. Embaixo de uma ducha, ao tomar banho, o engenheiro mecânico Fernando Brucoli não queria que a luz acabasse de jeito nenhum. Era inverno. Fazia frio. Ele apreciava a água quente quando viu o vapor subindo do ralo. "A gente fazendo o maior esforço para economizar eletricidade, e a água indo embora quente. Surgiu a ideia de criar um aparelho que não deixasse essa energia escapar”, diz. epoca.globo

Brucoli desenvolveu uma engenhoca capaz de aproveitar o calor do ralo para aquecer o chuveiro. Ele calculou que a água chega ao ralo ainda morna, com 80% do calor que tinha ao sair da ducha. Fez o encanamento que alimenta o chuveiro passar, antes, ao lado do sifão do ralo. Assim, a energia que iria embora com o calor ajuda a esquentar a água novamente, num ciclo que se retroalimenta. Um sifão especial, pouco maior que o usual, feito com plásticos (resistentes a água) e metais (mais eficientes na transmissão de calor).

O Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), uma incubadora de empresas iniciantes no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da Universidade de São Paulo (USP), ajudou a desenvolver a ideia. “O apelo do projeto, inicialmente, parecia pequeno”, diz Sergio Wigberto Risola, diretor executivo do Cietec. “Quando vimos o produto funcionando, porém, percebemos que era uma aposta muito boa.” De olho no mercado de hotéis, construtoras, academias e residências, Brucoli batizou o invento com um nome internacional: CycleDrain.
Economia de energia e $ 

Segundo o inventor, o CycleDrain consegue economizar 40% de energia nos chuveiros elétricos. “Com o aparelho, a temperatura de um banho a 40°C sobe para 48°C”, diz. “Você nem conseguiria ficar embaixo da ducha”. Em vez de comprar um chuveiro de 8000 Watts, afirma, é possível escolher um modelo mais barato, com menos de 6000 Watts, e ter o mesmo conforto térmico. Com menor potência, o chuveiro exige menos da rede elétrica da casa. Nos chuveiros a gás, afirma, o aparelho também ajuda a economizar água, ao encurtar os instantes de regulagem, antes de o banho ficar confortável. “O equipamento se paga em um ano e meio, nos chuveiros aquecidos a gás, e em dois anos, nos chuveiros elétricos”, afirma.

Ao lado dos irmãos, o engenheiro químico Cesar Augusto e a arquiteta Ana Paula, Brucoli fundou em 2011 a empresa EnerCycle(a empresa e seus produtos todos são batizados com a palavra “Cycle”, "ciclo” em inglês). Com preço estimado em R$ 1.600, o CycleDrain é fabricado de forma semiartesanal. Os irmãos esperam ampliar a produção nos próximos dois anos. Desde 2003, quando o primeiro modelo foi criado, Brucoli estima ter investido mais de R$ 150 mil entre obtenção de patentes, criação de protótipos e compra de materiais para teste. Com mais R$ 800 mil, diz, a empresa poderia investir numa produção de larga escala, capaz de baixar à metade o preço do produto.

Por enquanto, grande parte da estrutura da EnerCycle está ligada ao Cietec. A incubadora oferece espaço, estrutura jurídica e apoio tecnológico por três anos. Após esse período, as empresas podem se graduar e deixar a incubadora. “Enquanto o empreendedor estiver aqui dentro, ele pode testar seu modelo de negócio de todas as maneiras. Aqui, ele tem a chance de errar e corrigir”, afirma Risola. O contato com investidores também é mediado pelo Cietec: os interessados procuram a incubadora atrás de empresas jovens e promissoras. Após uma detalhada pesquisa de perfil, o investidor entra em contato com a empresa selecionada pelo Cietec. Em junho, por exemplo, a EnerCycle foi finalista na 6ª edição do concurso Acelera Startup, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Das 250 empresas participantes, apenas 12 receberão propostas de investidores.

A crise na oferta de água e eletricidade é um acelerador para soluções como o CycleDrain. Mas a crise econômica, com juros mais altos e queda no ritmo da construção civil, representa um freio às ambições da empresa. “A peça é boa, funciona e resiste”, diz Brucoli. “Precisamos de investimento externo para produzir em larga escala. Ao mesmo tempo, os investidores ficam mais cautelosos ao saber que a produção ainda não ganhou ritmo”. Que a crise não impeça boas ideias de entrar no círculo virtuoso do mercado.

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