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sábado, 23 de maio de 2015

Um futuro incerto para trabalhadores da indústria automotiva nacional

Por Por Natalia RAMOS | AFP 
Manuel Domingos e milhares de operários estão ou vão entrar de "férias" compulsórias nas montadoras de veículos onde trabalham em São Paulo. Esse é um sinal de desaceleração da indústria automobilística brasileira.

"Há um sentimento de insegurança, de pensar que, se somos obrigados a sair de férias, é porque algo não está indo bem nem na empresa nem na economia", lamentou Manuel Domingos, de 40 anos, trabalhador da fábrica da Ford na cidade de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo.

"É complicado, não temos opção. É um momento difícil para nós trabalhadores", disse à AFP o operário, casado com uma empregada doméstica e pai de dois filhos.

A indústria automotiva é uma das que mais sentiu os quatro anos de fraca expansão econômica e um quinto de estagnação. O FMI prevê uma contração 1% do PIB neste ano.

As vendas e a produção de veículos no Brasil registraram fortes quedas no primeiro quadrimestre: a produção e venda caiu quase 20% a menos do que no mesmo período de 2014, segundo a associação de fabricantes Anfavea.

A representante de distribuidores, Fenabrave, disse que 250 das 8.000 concessionárias que há no Brasil fecharam entre janeiro e abril, deixando 12.000 pessoas sem trabalho.

O setor bateu recordes de produção em 2013, quando mais de 10.000 automóveis novos chegavam diariamente às ruas do país. No ano seguinte, esse número, contudo, começou a cair, com o fim das vantagens tributárias ao setor.

"Temos medo"
Diante desse panorama, empresas como Ford, General Motors, Mercedes Benz e Volkswagen colocaram milhares de trabalhadores de férias e o regime de 'lay off' - uma suspensão temporária do contrato com perda de alguns benefícios, mas não do salário - para reduzir a produção diante das vendas menores.

A indústria automotiva hoje conta com 139.580 funcionários, cerca de 9,5% a menos do que em abril de 2014. Atualmente, mais de 10.000 trabalhadores estariam de férias ou em 'lay off' nesse ano em todo país. A Anfavea não confirmou esse número à AFP.

Nessa semana, a Mercedes Benz demitiu 500 trabalhadores e mais 7.000 funcionários tiraram férias em sua fábrica de São Bernardo do Campo.

"Temos medo. Embora haja um acordo com a empresa para assegurar o emprego, nos preocupa pensar que, se a crise se agravar, não há acordo que aguente", declarou Jorge Aparecido Lobo, um trabalhador da Volkswagen de 48 anos de idade.

À fraca economia brasileira somam-se o aumento da inflação, as altas taxas de juros e o esgotamento de um modelo econômico que baseou parte de sua força no consumo das famílias que deixaram a pobreza na última década.

"A indústria automotiva depende de três fatores: situação econômica geral, confiança do consumidor e acesso a financiamento. Atualmente, no Brasil, há dificuldades nessas três dimensões", disse à AFP Stephan Keese, chefe do setor industrial e automotivo da consultora Roland Berger para a América Latina.

"Há pouca perspectiva de melhora no curto prazo. Prevemos que o volume de produção pode registrar uma queda de até 20% nesse ano", acrescentou.

Capacidade ociosa
O Brasil caiu para o oitavo fabricante de veículos do mundo, com uma produção de 3,15 milhões de unidades em 2014, 560.000 a menos do que no ano anterior.

"O problema é que há uma capacidade instalada muito acima da produção atual. E não vamos ver volumes de produção acima dos 4 milhões de unidades nem no curto nem no médio prazo", afirmou Keese.

A indústria e os analistas estimam mais cortes.

"Estamos em um período de dificuldades", reconheceu o presidente da Anfavea, Luiz Moan, que aposta na recuperação do setor até o final do ano.

A indústria brasileira está concentrada sobretudo no mercado interno. Fora, o principal comprador era a Argentina, mas esse destino está em baixa e por isso a Anfavea está empenhada em abrir mais mercados nos países latino-americanos, como a Colômbia.

"O Brasil precisa de uma estratégia de longo prazo e mais competitividade - reduzir burocracia, custos logísticos e fiscais - se quiser ampliar sua presença internacional", explicou Keese.

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