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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Demissão voluntária vale a pena?

Getty Images/Caroline Marino, da VOCÊ S/A
Num momento de baixo crescimento econômico, diversas empresas estão lançando planos de demissão voluntária (PDVs) para reduzir seus quadros de forma menos traumática, por meio da oferta de pacotes financeiros especiais de desligamento. Em outubro, a montadora GM anunciou um programa de demissão voluntária para os trabalhadores de suas fábricas de São Caetano do Sul e São José dos Campos, em São Paulo.

Na Infraero, que faz a gestão de aeroportos brasileiros, 2 147 empregados haviam aderido ao programa até o fim do mês passado, uma consequência da privatização das operações de Guarulhos e Campinas (SP), Brasília (DF), Confins (MG) e Galeão (RJ) — a empresa espera até 4 200 adesões e um gasto de 1,15 milhão de reais em verbas rescisórias. O grupo PSA Peugeot Citroën, a Mercedes-Benz, a Petrobras e até a Universidade de São Paulo fizeram PDVs neste ano. 

Considerados por muita gente a antessala do desemprego, os programas de demissão voluntária podem ser uma alternativa interessante para quem já tem planos de fazer uma mudança profissional, mas ainda não tem uma reserva financeira para sair do emprego e colocar a estratégia em prática. Em geral, PDVs oferecem plano de saúde estendido, assessoria para a recolocação e pagamento de salários extras.

Na fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, por exemplo, os 1 100 profissionais que aderiram ao programa no primeiro semestre ganharam até 19 salários extras, de acordo com a idade e o tempo de casa. Algumas companhias ainda incluem no pacote a opção de comprar com desconto o carro da empresa, seguro de vida e aconselhamento de carreira. 

Três situações pesam a favor da adesão a um programa desse tipo. A primeira é se o profissional já tinha intenção de mudar de emprego. “A possibilidade da demissão com pagamento de salários extras e benefícios é muito vantajosa nesses casos”, diz Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de recolocação de executivos, de São Paulo.

O segundo caso é quando o profissional percebe que não tem possibilidades de crescimento e o relacionamento com o chefe está desgastado. “Sem chance de crescer, não há carreira que se sustente”, diz Rafael. A terceira situação é quando a companhia passa por um mau momento. “Se a empresa atravessa uma fase ruim, com poucos resultados, é aconselhável aceitar o PDV, pois a demissão pode ser inevitável e é melhor sair com mais benefícios do que ter uma perda financeira adiante”, afirma Rafael.

Em todos esses casos, aderir ao PDV dá fôlego e segurança financeira enquanto se busca uma nova oportunidade. Para Giovana Cervi, headhunter da Marks Sattin, empresa de recrutamento, de São Paulo, uma quarta situação favorável ao PDV é quando a empresa passou por uma fusão ou aquisição, o que acarreta mudanças na gestão, na cultura e na estrutura de governança. 

O administrador de empresas paulista Alan Bartels Frizeiro, de 32 anos, passou recentemente por um PDV na Rolls-Royce, empresa de prestação de serviços de manutenção de aeronaves, onde era diretor de negócios com clientes. Entre os benefícios oferecidos, estavam salários extras e programa de recolocação por seis meses.

Como tinha mais de dez anos na empresa, o número de salários recebidos foi suficiente para cobrir as despesas por um semestre e, ainda, melhorar o currículo. Agora, o administrador pretende investir em cursos no Brasil e planeja passar alguns meses nos Estados Unidos para se aperfeiçoar. “Vou investir em meu desenvolvimento e fazer coisas para as quais antes não tinha tempo”, diz Alan. 

Administração da rescisão
Independentemente do tamanho da rescisão recebida com o PDV, os especialistas em finanças pessoais alertam que o profissional precisa ter a preocupação de poupar, seja para o caso de a recolocação demorar mais do que o esperado, seja para conseguir fazer os investimentos desejados na carreira.

É desaconselhável comprometer todo o valor recebido com projetos caros, como a abertura de um negócio, a troca do carro ou a compra de um imóvel. Esse erro, um dos mais comuns quando se sai do emprego com uma boa indenização, pode transformar uma situação aparentemente confortável em um endividamento — agravado pelo fato de a pessoa não estar trabalhando. “O profissional não deve se iludir com o valor recebido”, afirma o educador financeiro Reinaldo Domingos, de São Paulo. “Ele está sem trabalho e sem receita mensal. Não pode gastar sem planejamento.” 

Com PDV ou não, a fase de desemprego requer uma revisão do padrão de vida. “A previsão de gastos deve considerar que uma nova contratação pode levar até um ano”, diz Reinaldo. Durante essa fase, a preocupação deve ser viver com o dinheiro da indenização, somado a uma eventual reserva que o profissional fez para essas situações.

Em um cenário no qual a pessoa estava empregada há cinco anos com um salário de 5 000 reais por mês e saiu com 95 000 reais (entre salários extras e rescisão do FGTS), a orientação é reservar 50% do montante para os gastos mensais. O valor deve ser aplicado na poupança, onde vai render enquanto não for usado, e não haverá cobrança de taxas no momento do saque.

Com o restante do dinheiro, a indicação é aplicar 20% em produtos de renda fixa, como CDB, LCA ou LCI — conservadores, mas com maior rentabilidade do que a poupança —, e destinar os outros 30% a seu desenvolvimento profissional. “A pessoa precisa investir em sua capacitação para aumentar as chances de conseguir um emprego com boa remuneração”, afirma o educador financeiro.

Se o plano for abrir um negócio, a regra é pensar em investimentos que caibam nesses mesmos 30% do valor do PDV. Neste caso, o especialista adverte que o profissional deve ter uma preocupação ainda maior em diminuir os gastos mensais, pois o negócio costuma demorar a dar retorno. 

Quando não aderir
Além dos fatores financeiros, a decisão de ingressar ou não em um PDV deve levar em conta aspectos de carreira. Em muitos casos, a empresa anuncia um pacote de demissões para trocar uma parcela grande de funcionários antigos por gente nova — e assim, oxigenar a cultura.

Nesses casos, a permanência pode significar crescimento de carreira. Uma decisão apressada, tomada de olho na bolada que cai na conta no curto prazo, é desaconselhada. Antes de entrar nessa, o profissional deve fazer uma avaliação de suas possibilidades de carreira dentro e fora da companhia. Por fim, deve-se tomar cuidado com a comparação com colegas. “Não vale se deixar levar pela influência de pares que não estão bem na empresa”, diz Rafael. 

Caso os projetos de uma mudança profissional realmente existam, analise se o pacote de benefícios é suficiente para cobrir os investimentos de carreira que valorizem seu passe — como um MBA — e permitam de fato realizar planos alternativos, como abrir o próprio negócio (veja quadro ao lado). “Boa oportunidade é aquela que contribui para um projeto e ajuda a ir em direção dos objetivos profissionais”, diz José Augusto Minarelli, presidente da Lens & Minarelli Associados, consultoria especializada em transição e aconselhamento de carreira para executivos, de São Paulo.

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