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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

No lugar do couro e da lona, marcas usam papel para fazer tênis

Quando as pessoas veem um par de tênis desenvolvido por Steven Weinreb, é normal que fiquem perplexas. "Elas dizem: 'Puxa, são extremamente leves! Bem bacana! Mas são feitos de papel'", diz Weinreb.

Na verdade, são feitos de Tyvek, um material tão leve quanto o papel, mas também resistente à água, relativamente robusto e que permite maior respiração. As solas são de borracha. Weinreb os vende online e em lojas de calçados em todos os Estados Unidos por meio de sua empresa Civic Duty, baseada em Secaucus, em Nova Jersey (EUA).

Onde mais o material é encontrado?
Se seu sótão recebeu isolamento térmico nos últimos 30 anos, se você foi a algum show e recebeu uma pulseirinha para a circulação pela área, ou se enviou ou recebeu encomendas, provavelmente já usou o Tyvek. Criado pela DuPont em 1955, ele é feito de fibras de polietileno de alta densidade e era originalmente usado – e ainda é – em objetos como rótulos e capas de livros. O Tyvek também é encontrado em trajes de proteção, faixas, embalagens industriais e médicas e capas para carros e barcos. Agora, os estilistas estão fazendo sapatos, bolsas e outros acessórios com o material.

Os tênis se juntam à tendência de calçados minimalistas estabelecida por marcas como Crocs e Vibram, com a sua linha FiveFingers, conhecida como os "tênis descalços". Já há algum tempo o peso dos tênis esportivos vem diminuindo e a Nike agora usa fio de poliéster em alguns de seus itens mais leves.

"Chamo isso de tecno-moda sustentavelmente sensível", diz Shawn Grain Carter, professora associada de Gestão de Marketing de Moda do Instituto de Tecnologia da Moda.

"Hoje há essa consciência de que não existe mais moda pela moda, mas ela também protege o meio ambiente", diz ela. "O Tyvek é um material que atende ambas as qualidades. É pós-industrial. É futurista. É pós-moderno".

A Civic Duty divulga seu tênis de Tyvek como não agressivo ao ambiente e adequado para aqueles que evitam roupas feitas de produtos de origem animal. A empresa também recicla os tênis usados em centros especiais, convertendo-os em "mesa de piquenique, banco de jardim ou qualquer outra coisa que seja feita com Tyvek", diz Weinreb (para a reciclagem, os clientes devem enviar os tênis usados para a empresa).

Desde a Fundação da Civic Duty, em 2009, suas vendas totalizaram algo em torno de US$ 8 milhões, segundo Weinreb.

Um de seus concorrentes seguiu um caminho semelhante, focando seu marketing em fatores ambientais e no fato de o artigo ser 'cool'. Três fundadores da Unstitched Utilities, em East Brunswick, em Nova Jersey, se conheceram quando trabalhavam na Fila, empresa de calçados e artigos esportivos.

Um deles, Kevin Crowley, havia trabalhado na indústria de trajes de proteção. Há vários anos, o grupo começou a experimentar com Tyvek em projetos de tênis, e mais tarde começou a usar revistas recicladas (cortadas em tiras e costuradas) como material. Agora sua empresa vende tênis feitos de Tyvek, além de lona.

"É difícil trabalhar com o Tyvek", explica Jack Steinweis, outro sócio. "É preciso realmente saber o que se está fazendo e tivemos uma boa orientação".

Steinweis e seus parceiros inicialmente queriam fazer os artigos nos Estados Unidos, mas não conseguiram encontrar uma fábrica disposta a trabalhar com o material, nem capaz de torná-lo acessível.

Tecnologia pelo mundo
A Unstitched Utilities começou a fazer seus tênis de Tyvek na China, mas acabou mudando a produção para o Vietnã. Os tênis, em versões de cano alto e baixo, custam entre US$ 50 e US$ 135 no site da empresa e em cerca de 30 lojas de calçados nos Estados Unidos.

Um terceiro concorrente no setor, a Unbelievable Testing Laboratory, começou a funcionar na China há dois anos com Token Hu, que trabalhava na empresa de design Frog Design. Ele começou a experimentar com tênis de Tyvek, pois sua mulher, que tem pé pequeno, sempre reclamava que não conseguia encontrar sapatos que servissem.

Hu acabou deixando o emprego e fundou a Unbelievable Testing Laboratory. A empresa está baseada em Xangai e em Las Vegas (EUA) e comercializa seus produtos para homens de 23 a 35 anos de idade que "trabalham em design, tecnologia, e engenharia", explica Joseph Constanty, seu cofundador, acrescentando que a empresa não utiliza o aspecto ambiental em seu marketing.

Ela vende os calçados pelo seu site com preços que variam entre US$ 68 e US$ 78 e dispõe de opções em Tyvek. A Unbelievable Testing Laboratory começou também a usar uma mistura de Kevlar e microfibra em seus designs. Neste mês, a empresa vai começar uma campanha no Kickstarter para ajudar a financiar a fabricação de uma nova bota de Kevlar e Tyvek que irá se chamar Moon Boot.

Seus calçados pesam cerca de meio quilo o par, mais leves que muitos tênis de corrida tradicionais ou os casuais como o Converse Chuck Taylors.

Os tênis da Civic Duty também são fabricados na China. De acordo com pesquisa de mercado da IBISWorld, o país é o maior fabricante mundial de calçados, com uma indústria de US$ 114 bilhões em 2013.

Os proprietários dessas empresas estimam que seus produtos durem em média um ano, o que os coloca em pé de igualdade com os tênis feitos de materiais mais tradicionais.

Há senões sobre a sustentabilidade ambiental do Tyvek – afinal de contas, ele é feito de fibras de plástico. E a reciclagem de calçados não é algo particularmente fácil para os consumidores.

"Tudo depende da porcentagem de clientes que de fato irá enviar seus calçados e da eficiência com que a empresa irá reciclá-los corretamente", afirma Rachel Obbard, professora assistente da Escola de Engenharia Thayer, em Dartmouth, que pesquisa e ensina sobre materiais de equipamentos esportivos. "Eu pessoalmente não acho que ele seja de fato 'produzido de forma sustentável'", escreveu Obbard em um e-mail.

E provavelmente não deveriam ser usados para exercícios, de acordo com a professora.

"O Tyvek é muito resistente em vários aspectos, não mancha e tem uma excelente relação entre peso e resistência", diz a estudiosa, "mas não é elástico, e sua respiração não é tão boa quanto a de um tênis de corrida tradicional".

"Posso acabar comprando um tênis de Tyvek, que é fácil de levar na mochila ou na mala", diz a professora, "mas não vou praticar esportes com ele".

Grain Carter reconhece que há limites para o Tyvek, mas vê o tênis como algo que fará sucesso com a geração do milênio, mais disposta a arriscar.

"Eles vão encará-lo como uma performance artística e levarão em conta também sua funcionalidade", explica ela. "Será um produto fácil de vender para esse segmento específico".  Foto: Divulgação-Fonte: The New York Times

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