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sábado, 23 de agosto de 2014

Até onde Marina pode ir?

ALINE RIBEIRO E ALBERTO BOMBIG COM LEANDRO LOYOLA E MARCELO ROCHA
>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:

Na madrugada do dia 30 de agosto de 2009, Marina Silva despertou num quarto de hotel em São Paulo e não dormiu mais. Ela acabara de romper com o PT – e seus pensamentos foram tomados por rostos e lembranças de bons amigos com quem, nos últimos 30 anos, dividira uma vida de militância política, lutas e sonhos. Chorou até o amanhecer. O descontrole era tanto que uma de suas filhas saltou da cama e seguiu em sua direção. “Mamãe, estou preocupada com você”, disse. Na tentativa de se recompor, Marina levantou, tomou um banho e fez uma oração. Em algumas horas, num bufê sofisticado, uma grande festa a esperava para consagrar sua filiação ao Partido Verde. Marina foi aplaudida de pé por mais de 1.500 pessoas quando chegou. Ao olhar ao redor, numa busca por feições familiares, sentiu-se sozinha em meio a uma multidão de desconhecidos.

Na quarta-feira passada, uma semana depois da súbita morte de Eduardo Campos, Marina se viu em situação semelhante, ao recomeçar em território estranho. Seu desafio agora é maior, por várias razões. A primeira é que, além de construir relações fluidas e de confiança dentro de um partido em que nem bem ingressou, Marina terá de fazê-lo em meio à recente perda do amigo e aliado político. Pior: sem contar com a proteção dele. Até a tragédia que interrompeu seus planos políticos, era Campos o maior conciliador dos conflitos (e eles não são poucos) entre os caciques do PSB e Marina, sua então vice. Sem Campos para pacificar visões políticas e de mundo tão divergentes, Marina precisará domar suas convicções para não se tornar vítima delas.

A segunda razão é que, pela primeira vez, Marina Silva aparece com chances reais de ser presidente da República. Na primeira pesquisa eleitoral posterior à morte de Campos, feita pelo instituto Datafolha e divulgada no início da semana passada, Marina aparece em empate técnico com Aécio Neves num cenário de primeiro turno – 21% contra 20%, para 36% de Dilma Rousseff. Tal cenário levaria a eleição para o segundo turno – e, nesse caso, ela venceria Dilma por 47% a 43%. Trata-se de uma situação bem diferente de 2010, quando Marina era uma espécie de candidata de protesto. Na época, além de empolgar evangélicos e ecologistas, ela cortejava aqueles que estavam cansados tanto de petistas quanto de tucanos. Candidatos de protesto podem ser intransigentes em certos casos, não precisam apresentar propostas viáveis e não precisam de coligações amplas. Candidatos de verdade precisam ser agregadores e ter propostas realistas. E aí surge a pergunta: Marina está preparada para ser uma candidata de verdade?

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