> TABOCAS NOTICIAS : Após dispensar telemarketing, jovem é xingada por SMS

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Após dispensar telemarketing, jovem é xingada por SMS

A estudante Marcela Dantas, de 32 anos, ficou chocada após ser ofendida por um atendente de telemarketing: ao dispensar um produto, ela recebeu uma mensagem de texto do operador dizendo que ela era “mal educada”. O serviço oferecido era a compra de um kit de livros de pedagogia, que fazem parte do catálogo da Mundial Editora – empresa sediada em Birigui, no estado de São Paulo, que atua no ramo de venda de publicações por telefone por meio de crediário. A mensagem de SMS foi recebida no último dia 24 de julho, com o seguinte texto: “mal educada, não sei por que faz pedagogia, se não sabe o que significa educação”. Nesta terça-feira (12), a empresa disse que prestará esclarecimentos após análise do caso por sua assessoria jurídica.

De acordo com a estudante, ela recebeu uma ligação do operador dizendo que a empresa havia feito uma parceria com a universidade na qual ela estuda, e que ela deveria adquirir os livros da editora. Marcela relata que o funcionário insistiu para que ela fechasse o negócio antes mesmo de saber o valor das publicações. Quando o preço foi revelado, ela disse então que não estava interessada e que não poderia pagar, e pediu para desligar o telefone. O funcionário ainda teria dito que enviaria um ofício para a universidade. Após isso, ele enviou a SMS.

“Ele disse que a empresa tinha uma parceria com Ministério da Educação e com a universidade, para envio dos livros e um vídeo também, e que não teria custo nenhum inicialmente. Perguntei a partir de quando teria que pagar e quanto custava o kit. Ele enrolava pra responder e queria que eu concordasse antes dele falar o valor, mas eu insisti. Ele disse, então, que o pagamento seria a partir de outubro, de dez parcelas de R$ 100. Respondi que não poderia comprar e que precisava desligar o telefone. Depois disso, ele me tratou de forma grossa, ficou perguntando se o que eu iria fazer era importante. Não sei se a ligação caiu ou se ele desligou, mas logo após ele mandou a mensagem”, conta.

Além disso, Marcela conta que outros alunos de sua turma e que também receberam a ligação de operadores foram chamados de “burros”, após não aceitarem comprar o pacote. Ela procurou se informar ainda com a coordenação do curso em sua faculdade e foi avisada de que a universidade não possui parceria para a indicação de compra de publicações da Mundial Editora. O caso indignou a estudante, que procurou a empresa para esclarecimentos, mas teve dificuldades para efetuar a queixa. A estudante só recebeu um retorno da editora após fazer a denúncia em um site especifico de reclamações, muito usado por consumidores que se sentem lesados.

“Depois que postei a queixa no site, me ligaram de lá, uma pessoa responsável pelo serviço de atendimento ao consumidor. Ela pediu que eu escrevesse no próprio site da empresa, mas não consegui, então enviei por email o ocorrido. Ela disse que a empresa que faz telemarketing é terceirizada e que o funcionário tinha sido localizado, e que ele seria desligado do departamento. Mas tudo de uma maneira muito vaga, sem nenhuma segurança de que eles tomariam providências. Ela foi atenciosa, mas não compete à ela resolver alguma coisa”, conta Marcela.

Má-fé
Diversos clientes da editora utilizam a internet para desabafar contra as táticas de convencimento e cobrança utilizadas pela editora. Os denunciantes dizem que é prática comum da empresa usar nomes de outras instituições, como o próprio Ministério da Educação, além de outras entidades que atuam no ramo educacional, como universidades particulares, para convencer sobre a compra. Muitos relatam terem sido enganados, já que a empresa solicita os dados pessoais e, antes mesmo de confirmar a compra, envia publicações não solicitadas pelos Correios junto com boletos de pagamento, geralmente com prestações de 10 ou 12 vezes.

Outro caso relatado é que a empresa informa os consumidores que eles teriam sido sorteados para ter o direito de adquirir os produtos, em uma tentativa de facilitar a venda e garantir compras por impulso.

Todas as informações sobre a maneira de atuação da empresa relatadas por consumidores foram confirmadas por uma ex-funcionária da empresa, que atuou em 2013 no setor de cobrança, na cidade de Marília, interior paulista. Ela, que pediu para não ser identificada, contou que a maioria das ligações do setor de telemarketing é destinada às pessoas que moram nas regiões Norte e Nordeste do país.

“Os moradores dessas regiões são o alvo: eles fazem muitas ligações para Manaus, Belém, e para cidades da Bahia, por exemplo. É uma empresa que usa muito da má-fé. As vendedoras falam várias mentiras que é para convencer mesmo. Tinha umas que diziam que o CPF da pessoa tinha sido sorteado pela Bienal do Livro pra adquirir as coleções, outras diziam que era até reconhecido pelo MEC, olha que absurdo. Algumas eram honestas, mas a maioria não era. E as pessoas humildes acreditam. As mais espertas diziam que se foi um sorteio teria que ser gratuito. Mas a maioria acabava comprando pela emoção”, denuncia.

Ela diz ainda que outro caso comum de desrespeito ao Código de Defesa do Consumidor (CDC) pela editora é quanto ao prazo de desistência da compra de produtos, que de acordo com o artigo 49, é possível desfazer a compra realizada fora do estabelecimento comercial (como internet e telefone) em até sete dias. Diante disso, sem conseguir cancelar a compra, vários consumidores acabavam com o nome incluído em serviço de proteção de crédito, como SPC e Serasa. A ex-funcionária disse que depois que saiu da empresa sempre aconselha as pessoas a não receber dos Correios as coleções e que se recusem a assinar os documentos de entrega.

“Muitos casos que eu peguei [para cobrança] as pessoas falavam que tinham mandado cancelar dentro dos sete dias, no prazo. E para resolver já não tinha como. Quase todos falavam que mesmo assim não iam pagar, que poderia até aumentar o juros, fazer o que fosse, alegando que em cinco anos a dívida caducava mesmo. O juros também era abusivo. Tinha uns que ficavam com medo e ligavam pra empresa dizendo que não queria ser presos, olha só”, revela.

Direito do consumidor
O advogado do consumidor Paulo Borges, que atua em Belém, classificou as práticas da empresa como criminosas. Ele sugere que as pessoas lesadas pela Mundial Editora procurem os órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, e ainda a Delegacia do Consumidor (Decon) de sua cidade, para que seja registrada ocorrência e para abertura de inquérito. Ele orienta ainda que aqueles que tiveram o nome negativado indevidamente devem acionar a Justiça, já que existem juizados especiais para tratar sobre relações de consumo.

“Na verdade, isso não é mais situação de consumo, é de polícia. Já tem reflexos penais graves e configura um crime contra economia popular, previsto no CDC. Percebemos que essa é uma prática recorrente, não só dessa empresa, já que hoje em dia é fácil conseguir informações públicas na internet. E essas empresas usam de má-fé. Os consumidores que se sentiram prejudicados podem ainda se reunir e prestar denúncia ao Ministério Público, já que tem um interesse coletivo”, explica o advogado. Fonte: G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário