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terça-feira, 1 de julho de 2014

Sexo como vício

WALCYR CARRASCO/http://epoca.globo.com
Tive uma amiga, jovem e bonita, que ia às baladas, conhecia um garoto, ia para o apartamento e transava. Vestia-se, voltava para a balada, encontrava outro – e levava. Saía com dois, três por noite de fim de semana. Não me refiro a um desequilíbrio mental, como no filmeNinfomaníaca, em que a personagem busca uma média de dez homens por noite. Nem a pessoas que procuram grupos de apoio, criados à semelhança dos Alcoólicos Anônimos, para tratar de sua compulsão por sexo. Todos somos educados para sermos campeões sexuais. Um menino é estimulado pelos pais, irmãos, amigos a fazer sexo com quantas mulheres puder, assim que crescer. A dar provas de virilidade. Aquele sujeito tímido, que espera por um relacionamento, tornou-se raro. É até malvisto por amigos, e também por muitas mulheres. A virilidade pública, exposta, é encarada como uma condição superior. E também entre os gays, cuja atitude com frequência é igual, só muda o objeto da conquista. Já conheci um médico, jovem, que, nos fins de semana, se dedicava a agarrar caminhoneiros num posto de gasolina nos arredores da cidade, competindo com prostitutas e travestis. Em rodas gays, é comum a exaltação das conquistas. O troféu dos troféus é incluir um pai de família no currículo.

– Ele é casado, mas sai comigo!

Não há muita diferença entre héteros que, em grupo, exibem também suas conquistas. Muitos têm namoradas, mulheres, filhos que adoram. Mas não resistem a oferecer incontáveis provas de virilidade.

– Ela é maluca por mim! Já disse que não quero compromisso, mas...

Tanto que um dos golpes frequentes, entre garotas de programa, é escolher um cliente rico. Sai com ele algumas vezes. Diz que é um homem maravilhoso, que só com ele encontra prazer. O maior erro de um homem, como dizia Balzac, é acreditar em elogios de bordel. Mas todos caem nessa teia de elogios à virilidade. A certa altura, ela diz:

– De você, não cobro mais.

E transa sem preservativos, porque o tonto acredita que conquistou, orgulho dos orgulhos, uma profissional. Sente- se o mais gostoso dos homens. Ela engravida o mais rápido possível. E passará a exigir pensão, apartamento, tudo de bom. Isso quando não acabar com o casamento do super- herói ou até botar uma aliança no dedo. Amor? Nunca houve, de nenhuma das partes. Ele foi traído por sua própria concepção de masculinidade. Homem que é homem, pensa a maioria, dá conta de qualquer mulher. Até conta para os amigos, com deboche.

– Fiquei com aquela tranqueira.

Os outros riem. Mas como? Encontrou no lixo?

Hoje em dia, as mulheres assumem comportamentos semelhantes. Em baladas adolescentes, há meninas que ficam com um, dois... já ouvi de uma garota que ficou com cinco. Não chegam ao sexo, necessariamente. Mas são beijos, amassos. Cinco? Que perspectiva de sentimento, de amor, há para uma garota que passa de mão e mão para sentir-se sedutora? A mulher ainda é educada para seduzir e dar provas de seu charme, beleza, atração. É uma reafirmação de seu poder feminino. Diferentes das que, no passado, eram criadas para casar, as de hoje aprendem a exercitar a sedução brincando com suas Barbies, descobrindo a maquiagem muito cedo, botando até silicone nos seios na adolescência. A conversa entre mulheres dentro de um toalete feminino não é muito diferente de um bando de machos tomando cerveja. O sentimento de caça é o mesmo, a sensação de vitória é igual.

A luxúria, de pecado capital, tornou-se uma vantagem. Aqueles que têm uma vida “certinha” não são tão valorizados como quem sai à caça. O sexo tornou-se um vício – não para ser tratado como nos casos mais agudos. Mas algo como o uísque diário, a cerveja, o baseado para usuários. É algo que se deve procurar, ter, sem que seja estabelecida uma relação com o amor. Há muita técnica, mas também frieza, porque não há sentimentos em jogo, só a necessidade contínua de ter mais alguém e mais alguém. Depois a pessoa perde a graça, como o menino se cansa do brinquedo novo. Às vezes acontece algo de bom. A pessoa se apaixona e se surpreende. Um amigo meu, com mais de 30 anos, nunca tivera uma relação estável. Recentemente conheceu uma garota e, para sua própria surpresa, apaixonou-se. E me revelou a grande descoberta.

– Eu pensava que sabia tudo sobre sexo. Mas com amor é muito melhor.

Aquilo que deveria ser simples tornou-se uma novidade. É preciso estar muito bem consigo mesmo para, simplesmente, amar.

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