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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Do que rirão de nós daqui a mil anos?

Essa é a pergunta que o filósofo Luiz Felipe Pondé gosta de se fazer e a seus alunos. Segundo ele, não há ciência profética mais científica do que pensar sobre o ridículo de nossas sociedades contemporâneas para nossos distantes descendentes. Em sua coluna de hoje, Pondé arrisca alguns palpites:
Rirão de nossa inútil obsessão pelo povo e sua soberania. Rirão de nossa ciência política e sua consciência histórica. Rirão de nossa certeza sobre o aquecimento dos polos e voltarão à astrologia por ser ela uma ciência mais modesta do que a do clima.
Para eles, nossos descendentes, ideias como as nossas soarão como hoje nos soa alguém crer que trovões seriam os deuses arrastando suas pedras no infinito.
Rirão de nossa obsessão em buscar pureza em civilizações mais pobres como as dos índios, que seriam mais honestos simplesmente porque nunca tiveram opção de sofisticar suas mentiras, como nós temos.
Quando pensarem em nós, esquecerão nossa tecnologia neolítica e farão seus alunos lerem livros sobre como éramos covardes e infantis. E sentirão vergonha, preferindo os gregos e os romanos, por serem mais lúcidos sobre a cegueira do destino.
Tentarão inutilmente acessar a razoabilidade de crermos que inventamos a nós mesmos e de que exista algo como “construção social do sujeito”, ideia interessante, se não engraçada, mas que sustenta outra ainda mais engraçada, que é aquela que afirma a existência de uma construção social planejada de novos sujeitos.
Não há muito como discordar. A ideia de que a voz da maioria é a voz de Deus, da Razão ou da Justiça, que encanta tantos populistas e demagogos, já era vista como bizarra por Aristóteles há 2.500 anos. Imagine o que vão pensar disso daqui a mais mil anos…
A histeria com o aquecimento global, que rendeu ao embusteiro Al Gore um Nobel da Paz, será motivo de piada de salão, ainda que um salão bem diferente e futurista. Mas ainda precisarão de piadas, e esse pânico incutido pelos ecoterroristas renderá boas risadas.
O engodo desenvolvido por Rousseau, de que os mais pobres e selvagens são “puros” e que a civilização nos corrompeu, que já era motivo de perplexidade para pensadores sérios alguns séculos atrás, será visto como algo estarrecedor no futuro. Quer dizer que havia mais felicidade nas tribos primitivas e nas favelas? Risos…
Construção social do sujeito? Essa expressão, sem dúvida, fará muita gente dar boas gargalhadas no futuro longínquo. “Quer dizer que gênero era apenas uma questão de ideologia, segundo aqueles bárbaros do século 21″, pensarão os seres humanos do terceiro milênio, entre uma boa risada e outra.
Enfim, estamos preparando um terreno muito fértil para o humor dos que virão. Ou não. Ou Pondé está enganado, e não há tal evolução linear ou garantida. Quem sabe a estupidez é que tenha um futuro promissor e garantido? Quem sabe novas estultices encantem tanta ou mais gente como as de hoje?
Afinal, aprendemos com a História que quase ninguém aprende com a História. Como disse George Orwell, “Toda geração se imagina mais inteligente do que a anterior, e mais sábia do que aquela que vem em seguida”. Ou, como colocou Henry David Thoreau, “Toda geração ri da moda antiga, mas segue religiosamente a nova”.
Acho que rirão de nossas baboseiras sim. Mas, sem sombra de dúvidas, criarão várias outras para que as outras gerações vindouras ainda possam rir deles também…
* Rodrigo Constantino, na Veja

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